quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Detergente, limpador, sabão em pó e sabão em barra com folhas de mamão, óleo usado, vinagre de kombucha

Peço desculpas aos leitores que vêm ao Come-se esperando encontrar comida, mas aqui também se faz fritura, junta óleo e  lava a louça suja. Sem contar, claro, que ensina a economizar e poupar o meio ambiente evitando lixos desnecessários e necessidades criadas.

Minha irmã Suzana e eu já havíamos feito o sabão com óleo usado e folhas de mamão no sítio - gosto de fazer lá, porque colocamos um baldão no quintal, um banquinho em frente e vamos mexendo em sistema de revezamento por uns 30 minutos, sem pressa, até a massa ficar cremosa. Aí é só despejar numa caixa e deixar secando.

A receita, peguei no canal da Fran Adorno. Veja aqui. E depois, para fazer o detergente e o limpador, peguei a fórmula da Cristal Muniz (instagram: #umanosemlixo) divulgado no canal da JoutJout Prazer - veja aqui.e incrementei usando meu próprio sabão em vez do de coco e ainda um corante azul próprio - o meu leite azul de jenipapo. Sem o corante, parece leite e a cor serve para que ninguém se confunda.   Vamos, então, à receita.

O plástico deixou suas flores impressas (técnica involuntária) 

Sabão com óleo usado e folhas de mamão 

4 folhas grandes de mamão, sem os talos
1 litro e meio de água fria
1 kg de soda concentração entre 96 e 99% (você pode encontrar em alguns mercados pequenos ou casa de material de construção
5 litros de óleo usado e coado
1 xícara de vinagre de kombuchá ou qualquer outro

Lembre-se que a soda pode te queimar, por isto separe um balde de plástico grande, um bastão de madeira pra mexer, luva de borracha e óculos de proteção (eu não uso os dois últimos, mas por minha conta e risco).

Bata as folhas de mamão com meio litro de água até formar um suco verde. Coe, junte ao vinagre e aqueça para amornar.
Enquanto isto, coloque a soda num balde grande, junte o restante da água e mexa bem até dissolver, cuidando para não aspirar o vapor que se forma. Quando estiver dissolvida, junte o óleo aos poucos e mexa bem por cerca de 10 minutos ou até começar a ficar cremoso. Junte, então a mistura de suco verde de folhas de mamão com o vinagre. Mexa bem com o bastão por mais meia hora aproximadamente, ou até ficar com consistência de doce de leite. Passe para uma caixa ou gaveta forrada com plástico. Cubra com pano e deixe endurecer - pode demorar até uma semana. Desenforme, corte os pedaços e guarde. Não use antes de uma semana pois a soda precisa ser curada - antes disso, pode agredir a pele.  Quando mais tempo passar, melhor.

Rende uns 40 pedaços

Ralado fininho pra sabão em pó e para o detergente . Fácil ralar 
Sabão em pó: basta ralar a barra bem fininho. Na hora de usar na máquina, dilua um copo em 1 litro de água fervente para não ter risco de restar uns pedacinhos.
Ralado vira sabão em pó 

Detergente e limpador sem corante 
Detergente: basta ferver 3 litros de água com 1 pedaço de sabão (ou equivalente a um sabão de coco do mercado) ralado. Mexa bem (uso fouet) e junte 3 colheres (sopa) de bicarbonato de sódio (compre em lojas de artigos para sabonetes - vai pagar bem mais barato), aos poucos para a espuma não transbordar. Por último, acrescente 50 ml de álcool. Se quiser, espere esfriar e junte essência a gosto - também encontrada em lojas de artigos para sabonetes - e corante alimentício (usei um pouco do meu leite azul de jenipapo - algo com 1 colher de sopa para os 3 litros).  Misture bem e coloque em recipientes de detergente.

Usei esta essência de algas e o corante azul jenipapo
que fiz 
Para o limpador geral (como se fosse um Veja da vida ou limpa-vidros), dilua o detergente acima em água - 1 parte do detergente para 4 de água. Chacoalhe bem e coloque em pulverizador. Ótimo para limpar fogão, geladeira etc.  Limpe com um pano umedecido com o limpador e depois passe um paninho seco para dar brilho.



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Fazendo o próprio pão no próprio forno

As flores e folhas frescas são só pra fazer graça - e deixar a impressão, talvez 
Faz tempo que ando querendo construir um forno a lenha lá no nosso sítio em Piracaia, mas nunca dava certo de encontrar alguém que topasse ir lá fazer. Enquanto isto ia pesquisando técnicas de feitio no youtube. Até que nos ocorreu de organizar a construção para quando meu pai viesse nos visitar, o que aconteceu no carnaval. Na minha família, por parte de mãe, todo mundo sabia fazer forno. Minha avó Zefa, meu avô Joaquim e minha mãe já se foram sem me ensinar. Mas meu pai aprendeu com eles, já fez alguns quando eles moravam no sítio e agora me ensinou - não vou esquecer nunca mais. E que fique aqui registrado para minha filha e os filhos dos outros. 

A tela e estas travessas de baixo não eram necessárias uma vez que o
forno é redondo. A distância entre estas travas é de 80 cm, portanto
o diâmetro do forno é a medida da transversal. Na hora de fazer, tiramos
as travessas de baixo e a tela. Só os arcos já ajudam 
É claro que no sítio, quando meus pais faziam, usavam menos recursos do que usei. A armação, é claro, não precisa ser de ferro.  Há várias formas de se montar um forno. Pode-se fazer um monte de areia, cobrir de barro e quando este seca basta tirar a areia. Pode ainda fazer a estrutura de bambu para suportar os tijolos e/ou barro. Mas eu preferi desenhar um esqueleto com medidas da minha cabeça e pedir para um serralheiro fazer já deixando fixa a porta com tramela e a chaminé, tudo numa estrutura só. Nos modelos mais rústicos, há outras formas de bolar uma chaminé e uma tampa - geralmente um pedaço de chapa fecha a portinhola, usando como trava um toco apoiado ao chão.  

Daqui foi tirada a terra de formigueiro
Com açúcar cristal 

Até a irmã Fátima entrou na dança 

O pai assentando os tijolos - antes eu encontrei o centro da bancada,
fiz um compasso de barbante e giz e risquei o círculo 

Já com a estrutura do telhado 

O Doc agora também sabe fazer forno 

Para aproveitar a massa que sobrou, fiz um fogãozinho para o disco de arado
O pedreiro fez uma bancada forrada com plaquetas hidráulicas, de modo que quando meu pai chegou, foi só fazer a massa e assentar os tijolos - desses de barro normais para construção, sem necessidade de ser tijolo refratário. 

Bem, com meu pai fiz todo o processo e agora posso dizer que também sei fazer um fogão de barro - se bem que é melhor esperar pra ver se vai funcionar mesmo. Mas, segundo meu pai, não tem porque dar errado. Provavelmente só vou ter dificuldade para acertar a temperatura. 

Botei um pouco de alecrim na massa pra disfarçar o cheiro de esterco -
não adiantou nada, mas o cheiro passa rápido. 



Pronto! E já com telhado! 



Neste final de semana estávamos sós, Marcos e eu, pois meu pai já tinha voltado pra casa. Então, sobrou para nós a tarefa de rebocar o forno. Fizemos a massa conforme orientação dele e parece que deu  tudo certo - a massa ficou super flexível, maleável. O esterno de vaca é um ingrediente que faz a massa ficar menos dura e portanto menos passível de rachaduras. O açúcar deixa a massa mais grudenta, elástica. 

Para a massa de assentar os tijolos, usamos: 3 carrinhos de terra de formigueiro (isto não falta lá no sítio) e 5 kg de açúcar cristal ou mascavo.  Se a terra estiver empelotada, peneire. Mas a terra de formigueiro soltinha não precisa - a saliva da formiga, acredito, deve servir para deixar a massa mais liguenta. Misture tudo e vá juntando água e mexendo com a enxada, até ficar uma massa grudenta que se junta ao tijolo. 

Para a massa de reboco - fizemos 5 dias depois: 3 carrinhos de terra de formigueiro peneirada, 1 a 1,5 lata grande de tinta de esterco fresco de gado e de 1 a 2 litros de cinza. Misture tudo e vá juntando água até virar uma massa como massa de reboco. 

Depois de os tijolos assentados, rebocamos com as mãos, jogando a massa contra os tijolos e depois alisamos com as mãos. 

Agora é esperar secar, acender a lenha e fazer o pão.  Quero ainda fazer algumas oficinas do PãoNaCity lá. Aí será PãoNoSítio. 

Como sobrou massa, quis fazer uma experiência usando outra técnica
de construção de forno - faz uma montanha de areia molhada, cobre com
o barro, espera secar e tira a areia. 

Forninho de lenha de experiência 





quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Bolo azul jenipapo com mangas


Mangas, continua tendo lá no sítio. Mas quis usar umas fatias que congelei na última colheita quando decidi fazer um bolinho rápido de frigideira para receber a nutricionista Irany Arteche que vive em Porto Alegre e veio me visitar (foi ela a coordenadora do projeto Panc e soberania alimentar, em 2008, que deu origem ao acrônimo PANC usado no livro do Valdely Kinupp e Harri Lorenzi e que graças a eles a sigla e o assunto continuam fazendo fama por aí).

Só pra contar rapidamente como fiz: untei uma parte da omeleteira com manteiga e polvilhei farinha. A outra parte, untei com bastante manteiga, polvilhei açúcar cristal e espalhei por cima umas fatias de manga (as minhas, congeladas, mas claro que pode ser com qualquer manga fresca). Depois fiz uma massa de bolo comum - 1 ovo, 1 xícara de leite azul (aquele com jenipapo que já mostrei aqui), 2 colheres de manteiga, 1 colher (chá) de fermento em pó, 1/4 de xícara de açúcar, 1 pitada de sal e farinha de trigo até ficar com consistência de massa de bolo densa (cerca de 1 xícara). Coloquei sobre as fatias de manga e levei ao fogo bem baixinho. Antes que começasse a dourar a manga e grudasse no fundo, virei a massa e cobri a manga com um pedaço de folha de cúrcuma. Virei de novo a massa e deixei dourar mais um pouco, agora já com a folha. Deixei cozinhar do outro lado e virei sobre um prato. E nhac!

Só pra lembrar que isto é uma cozinha circunstancial, portanto, a receita não existe (se encontrar algo parecido, me mostre!). Fiz assim pela primeira vez e posso fazer de outro jeito na próxima. Ou não fazer nunca mais. Mas gostei do resultado de cor e sabor e queria deixar registrado. Da próxima vez, talvez já coloque no início a folha e passe a manteiga diretamente sobra ela, assim como o açúcar polvilhado. E também vou espalhar sob a manga um pouco de cardamomo triturado. Acho que vai combinar. Fica então a ideia.

Tem outro bolo azul aqui no Come-se.  E também no meu instagram: https://www.instagram.com/p/BWIojzbhVP2/ e  https://www.instagram.com/p/BWIpcFGhxXl/





















Um bolo azul e amarelo para a querida Irany! 

Pancnacity de 08 de fevereiro de 2018


Nossa colheita do dia 
Fazia tempo que não conseguia fazer pancnacity, mas na última sexta teve e, antes que complete uma semana, aqui estão as fotos. 

Só para compor a mesa, colhi um dia antes: Baba-de-boi, baba-de-vaca,
Cordia superba 

Para servir: fermentado de chicória, flor de lírio-do-brejo, hibisco,
malvavisco, pimenta etc. 

Almôndega de casca de banana-marmelo com farinha de grão de bico e
temperos - sem leite, sem manteiga, sem ovos, sem fermento. Pra comer
com molho de tomate. 

Feijão fradinho fermentado com e sem cúrcuma para bolinhos 

Colheita de melão de são caetano

A turma do dia 

O pão de abóbora com jenipapo verde 

Manteiga com sementes de cânhamo. Foto antes que acabasse (só a manteiga
misturada com as sementes tostadas e trituradas). Não dá barato! 

Sobremesa: creme de mandioca com kefir, vinagre de umbu e folhinhas
de garupá 


A comida! 

Doce de banana marmelo com coco e florzinhas de sabugueiro 


Tomás, filho da amiga Juju, chegou no fim pra
experimentar um pedaço do pão azul que combinou
com seus olhos 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Sobre Piracaia


Faz tempo que não falo aqui sobre nosso sítio em Piracaia, mas hoje me deu vontade revendo estas fotos do final de semana. É que só agora as coisas começam a aparecer. Mangas e bananas-marmelos são alguns exemplos. E, claro, a gente continua trabalhando muito. Sempre tem coisas a fazer, sempre tem um algo a reformar. Agora temos um espaço cercado com alambrado para poder plantar sem se preocupar com os javalis,  estamos reformando uma das casas para alugar, vamos ter forno de lenha em breve - e quem sabe as oficinas de pão passem a acontecer lá também. Enfim, algumas fotos. 

Cipó de alho na frente da casa - folhas e flores são comestíveis e lembram
alho

Mangas, bananas, cachorrada 

Manga deliciosa que não sei qual é. E banana marmelo, banana-pão,
banana-figo, banana-sapo etc. Deliciosa quando cozida

O caseiro passou para outra casa e esta será alugada. 

Pensei num forno, desenhei e pedi para o Aristides, serralheiro de confiança
em Piracaia, montar. Agora fica mais fácil pra cobrirmos de tijolo e barro. 

Espaço de refeições 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Folhas de curry. Coluna do Paladar, edição de 01 de fevereiro de 2018

Folhas e frutos de curry 


Ontem foi dia de voltar da Ilha do Marajó - veja fotos aqui no blog, clicando as fotos do instagram aí na coluna do lado direito. E dia da coluna do Paladar que saiu no jornal impresso, no site do caderno - agora só para assinantes - e que reproduzo aqui também integralmente com alguns adendos, como o molho de curry e a pimenta com os frutos. 

FOLHAS DE CURRY 

Falar hoje de temperos asiáticos como limão makrut ou kaffir, galanga e folhas de curry, talvez já não suscite mais grandes curiosidades como acontecia vinte anos atrás. Vivemos naquele momento em que cozinheiros amadores e profissionais têm facilidades enormes para conseguir quase tudo o que querem. E desejos satisfeitos não são mais motivos para os rompantes de alegrias vividos em um passado recente.  

Ainda assim, sempre haverá um ou outro ser atemporal que correrá atrás do ingrediente como se ele fosse realmente raro e entrará em êxtase quando o encontrar. Foi exatamente assim que aconteceu comigo muitos anos atrás quando li uma crônica da Nina Horta no jornal Folha de São Paulo falando do meetha neem ou folhas de curry, o ingrediente que faltava para fazer um prato de caril perfeito. Nina dizia que tinha plantado a árvore em sua  calçada no Alto de Pinheiros e relatava a saga para conseguir a muda da casa de uma indiana no Alto da Lapa. Nesta época ainda não a conhecida pessoalmente e tudo o que eu poderia fazer era andar pelas ruas de Pinheiros à procura de tal árvore. Sendo a calçada um espaço público, era certo que se encontrasse traria para casa algumas folhas sem me apresentar por timidez.  Claro, nunca achei nada parecido nas calçadas por onde andei. Até que nos aproximamos e finalmente ganhei uma muda retirada do entorno da planta-mãe,  que quando adulta lança muitos rebentos saídos da raiz emaranhada,  por sinal muito vigorosa, boa  para segurar desmoronamentos e evitar erosões. 

Quando se tem uma muda, sempre terá outras para multiplicar e presentear, venham  por rebentos ou sementes.  Minha muda, na época, foi para o sítio dos meus pais e virou uma árvore enorme.  Lembrando das raízes poderosas,  é sempre prudente plantá-la a uma certa distância de casa. Depois disso, nunca mais fiquei sem e hoje temos uma muda vistosa na horta comunitária da rua.  Sei que ninguém vai sair de onde está pra vir aqui buscar umas folhinhas, pois basta comprar a muda nos Viveiros Ciprest ou Sabor de Fazenda e suas receitas indianas estarão salvas. Mas, desde que não depletem a árvore e deixe também para os voluntários que cuidam dela, o espaço é público e qualquer pessoa pode colher.
De vez em quando vejo alguma confusão feita com outra planta de folhas penadas como a árvore de curry, chamada de neem ou nim (Azadirachta indica), que contém em todas as partes uma substância tóxica, de ação carrapaticida, bactericida e praguicida e por isto é muito usada em todo o Brasil atualmente como defensivo natural na agricultura orgânica. É também bastante usada na medicina e na cosmética ayurvédicas.

Mas a erva aromática usada na Índia (mais no Sul) e países vizinhos vem da espécie Murraya koenigii, árvore vistosa, com folhas penadas, brilhantes e perfumadas . Os frutos que passam do vermelho ao preto com o amadurecimento também são comestíveis, docinhos, suculentos, perfumados, lembrando um pouco os grãos de café, inclusive na proporção de polpa e sementes, estas verdes e tóxicas – para usá-las em preparos doces ou salgados, deve-se tirar as sementes que podem ser plantadas. Na língua híndi a planta é chamada de meetha neem ou kari-pattha - respectivamente, neem doce e folha de caril (em inglês é curry leaf). Embora apenas a Murraya seja aromática, as duas são medicinais. Neem, em sânscrito, significa “cura para todos os males”. Há estudos mostrando efeitos benéficos da M. koenigii no tratamento do diabetes.

Fora a confusão botânica entre as ervas, as de natureza linguística não se acabam no termo neem.  Isto porque as palavras kari, em hindi,  curry em inglês ou caril, em português, valem para um prato feito com uma combinação de especiarias além das folhas citadas; para o pó feito com todas as especiarias usadas no prato incluindo as folhas; e para as folhas de curry isoladamente, pois são folhas para se usar no prato curry.

Aliás, o pó de caril ou de curry parece ter sido invenção dos colonizadores ingleses que, quando deixaram livre a Índia, levaram com eles a saudade daquela mistura ou massala que os indianos faziam na hora, tostando e triturando especiarias, para temperar os ensopados de vegetais ou leguminosas. O produto comercializado em pó foi uma forma de tentar reproduzir e resumir aqueles sabores – europeizando a mistura, deixando-a menos picante.

Hoje o produto industrializado pode ser encontrado em todo o mundo, inclusive na Índia. E assim como as misturas caseiras, o produto comercial também pode trazer muitas fórmulas, com diferentes especiarias e proporções -  com mais, menos ou sem cominho, pimentas variadas, gengibre, canela, grãos de coentro, cúrcuma, feno grego, erva-doce etc. Em comum todos chegam à coloração amarelada, graças à presença constante da cúrcuma. O feno grego confere aroma de caldo de galinha e as pimentas dão picância. Já as folhas de curry tem perfume muito mais sutil, cítrico, fresco e penetrante. Na primeira vez que senti o sabor e perfume logo pensei em folhas de tangerina e de pitanga. Desde então é o que recomendo quando alguém me pede substituições.   Aliás, confira sempre a lista de ingredientes do pó comercial – nem sempre as folhas estão presentes, por incrível que possa parecer.
Uma técnica corriqueira de uso das folhas é fazê-las crepitar sobre óleo quente com cominho, grãos de mostarda e feno grego. Assim, elas soltam o perfume para a gordura, ficam crocantes e é um bom jeito de começar um ensopado ou acrescentar pimentas, oleaginosas e pimenta e temperar arroz branco ou fazer curry seco refogando nesta mistura legumes pré-cozidos.

Outro jeito de usar é empregar em qualquer prato com caldo como fazemos com louro, com a vantagem de que podemos comer as folhinhas cozidas – aliás, mesmo em saladas elas ficam gostosas.

Por aqui, as folhas são mais usadas em pratos indianos, como os ensopados de lentilhas ou dals, mas elas são comuns também em outros países asiáticos, incluindo Sri Lanka, Burma, Cingapura, Camboja e Tailândia.




Caril Seco de legumes

2 colheres (sopa) de ghee ou azeite
500 g de legumes picados em pedaços grandes (abobrinha brasileira, pimenta americana, cebola roxa, pimentões coloridos, por exemplo)
1 colher (chá) de sal
1 colher (chá) de cominho
2 colheres (chá) de grãos de mostarda
1 colher (chá) de feno grego
20 folhas de curry
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
1 colher (chá) de cúrcuma em pó

Coloque 1 colher (sopa ) de ghee ou azeite numa frigideira antiaderente que tenha tampa (pode ser omeleteira) e leve ao fogo para aquecer.  Coloque os legumes com o sal, tampe e cozinhe em fogo baixo, chacoalhando constantemente até que os legumes fiquem dourados e macios – sem precisar de água.
À parte, numa frigideira grande, aqueça a gordura restante e coloque o cominho, a mostarda e o coentro. Quando começarem a pipocar, junte as folhas de curry e deixe que fiquem crocantes.  Acrescente a pimenta, mexa e junte a cúrcuma. Coloque os vegetais pré-cozidos, chacoalhando a frigideira para uniformizar.  Sirva como acompanhamento junto a saladas de folhas ou com arroz branco.


Rende: 4 a 6 porções

Aqui os frutos, sementes e folhas 
Com as folhas que sobraram das fotos, resolvi fazer um molho para refogados rápidos. Usei os temperos comuns que uso normalmente num curry indiano e bati tudo com óleo. 

Curry em pasta para pratos de inspiração indiana (já que há pastas de curries tailandesas, mas geralmente as misturas indianas são secas) 

Coloquei no copo do liquidificador umas 3 pimentas dedo-de-moça, um punhado grande de folhas - o tanto que está na tábua no começo do post - além de uma colher (sopa) de cominho levemente tostado, 1 de  cúrcuma em pó e outra de feno grego levemente tostado e 1 rodela de gengibre. Bati tudo, adicionando óleo só para fazer funcionar o aparelho. 
Depois de bem triturado, juntei algumas folhas de curry inteiras e 1 colher (sopa) de grãos de mostarda escura.  Guardei na geladeira para acrescentar a qualquer legume pré-cozido ou no início de um refogado. 


Pimenta americana e berinjela com frutos de curry 

Numa omeleteira com tampa, coloquei algumas pimentas e uma berinjela pequena cortada em quartos. Reguei com azeite, tampei e fui cozinhando, virando sempre a omeleteira, até que os legumes ficassem dourados e macios. Juntei uma colher (sopa) rasa da pasta de curry e misturei bem. Temperei com sal. À parte, dourei em um pouco de azeite algumas folhas de curry e juntei frutos de curry. Mexi e deixei cozinhar só até que os frutos ficassem murchos. Juntei aos vegetais e pronto.