quinta-feira, 31 de março de 2011

Quinta sem trigo 15: pastel de angu


Pastel de feira é bom, mas quem resiste aos tradicionais pasteis de angu? Entre São Paulo e Minas há variações aqui e ali, com uso de farinha de milho molhada em água quente, polvilho doce, polvilho azedo, fubá comum ou de canjica. Eu mesma já dei uma receita aqui diferente desta que apresento, mas também deliciosa. Mas, como ganhei ontem alguns autênticos ingredientes mineiros da Kris Nardini, do blog Cozinhando para relaxar, resolvi já usar parte deles para fazer o pastel de angu com o fubá de canjica (saiba mais sobre o que já foi publicado aqui sobre ele através da caixa de busca lá em cima) e o polvilho que vieram do Box do Chico, do Mercado Municipal de Uberlândia, que já estou doida pra conhecer. Vieram na mesma caixa farinha de milho branco torradinha, doces e balas embrulhadas em folha de bananeira e goiabada cascão, que já usei também como variação de recheio.
Procurei uma receita que fizesse juz ao nome - pastel de angu. A melhor foi a do Pastel de Itabirito, feito a partir de um angu de fubá de moinho de pedra e polvilho azedo. Segui o modo de fazer com algumas pequenas modificações que descobrirá ao comparar as duas receitas. A original, que mostra a técnica de montagem,
está aqui.
E aqui está a minha versão:







Massa feita com ingredientes do Box do Chico, do Mercado de Uberlândia


Pastel da angu


2 xícaras de água (480 ml)

500 g de fubá de canjica peneirado

1/2 colher (chá) de sal - ou menos para os pasteis doces

1 colher (sopa) de óleo

1 pitada de bicarbonato

1/4 de xícara de polvilho doce peneirado

1 ovo


Coloque numa panela a água, o sal e o óleo. Leve ao fogo e assim que ferver junte o bicarbonato e, em seguida, coloque o fubá aos poucos, mexendo rapidamente com colher de pau até virar um angu firme. Deixe cozinhar dois minutos mexendo e despeje sobre uma superfície de trabalho (mesa ou tampo de pedra). Acrescente o polvilho e mexa a massa ainda quente, sovando bem. Quando amornar um pouco, junte o ovo e continue sovando até ficar uma massa lisa e modelável. Deixe embrulhado em pano úmido até o momento de fazer os pasteis. E mantenha sempre assim, para não ressecar.



Se quiser, já divida a massa em 20 porções, faça bolinhas e deixe-as cobertas com pano úmido. Assim, ficará mais fácil na hora de abrir.



Para abrir e rechear: faça-o com as mãos, abrinho uma cavidade na massa com o dedo e colocando o recheio (na receita original, link lá em cima, tem fotos). Ou abra com rolo ou prensa entre duas folhas de plástico, que acho mais fácil. Coloque o recheio - duas colheres (chá) - e feche ainda mantendo a folha de plástico, para não rachar a massa. Para fechar, dobre as beiradas ou aperte levemente com um garfo. Aí é só fritar em bastante óleo quente.
Rende: aproximadamente 20 pasteis




Recheio de carne moída


2 colheres (sopa) de manteiga

1 cebola picada

350 g de carne moída (acém)

2 pimentas dedo-de-moça, verde e vermelha, sem sementes, picadas

Sal e pimenta-do-reino a gosto

Salsinha e cebolinha picada a gosto
Numa frigideira aqueça a manteiga e doure a cebola. Junte a carne moída, a pimenta, o sal e a pimenta-do-reino e deixe refogar até a carne ficar bem sequinha e solta. Prove o sal e corrija, se necessário. Junte o cheiro-verde e espere amornar para usar.
Rende 350 g ou o suficiente para 20 pasteis


Recheios
: se quiser pode usar frango, coração de bananeira, banana com canela ou ainda queijo e goiabada - a goiabada também veio do Box do Chico.


No forno:
se não quiser fazer frituras, asse os pasteis no forno, em forma untada. Antes, pincele-os com gema para ficar mais dourados. A massa vai ficar flexível, mas gostosa.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Araçá urbano amarelo


Nesta semana mostrei o araçá vermelho e agora, por destino do olhar, esbarrei novamente num outro pé de araçá, só que do branco, que nunca tinha visto ali, embora passe beirando esta praça há anos. Ela fica um pouco acima do nível da calçada e o arbusto é tão pequeno que até o ano passado não chamava atenção junto de fruteiras adultas e grandes, como mangueira, nespereira, amoreira e abacateiro. Mas a quantidade de frutinhas, ainda verdes, chama a atenção. Parece que não está muito bem. Terra pobre, pouca atenção, muito barulho e poluição. Perdeu todas as folhas, mas ainda assim seguiu seu propósito de se reproduzir - e parece que quanto maior o risco para a própria vida, maior é a determinação em deixar descendentes.

Sopa de tortilla, de Lourdes Hernandéz


Eu tinha tortilhas sobrando e caldo de galinha caipira na geladeira. Pedi para Lourdes Hernández uma receita da tradicional Sopa de Tortilas, que sabia ser um jeito clássico de aproveitar tortilhas amanhecidas. Ela me disse que teria que usar chiles secos, que eu não tinha. Então, foi só combinar o escambo. Eu lhe mandei epazote (mentruz, erva-de-santa-maria), papaloquelite (quirquinha) e um pouco de massa de milho nixtamalizado e ela me mandou deliciosos chiles guajillo e ancho pasilla. Eles dão um sabor especial para a sopa, mas se não encontrá-los se vire com o que tem.
A sopa teve que esperar pois acabei usando o caldo de galinha para outra coisa e as sobras de tortilhas foram comidas meio borrachudas e frias - ainda assim estavam ótimas. De modo que fiz outro caldo e outras tortilhas. A sorte é que tinha aqui um pato (daqueles que comprei para criar em Fartura) e fiz um caldo com as costelas e partes mais magras. Mais sobre o pato, aqui. E sorte também que havia congelado umas bolotas de massa pronta de nixtamal. Foi só descongelar, prensar, assar e fritar as tortilhas, como totopos (com óleo que cubra).
Fiz ainda outras adaptações; por exemplo, em vez de queijo mexicano usei o meia cura cortado em cubinhos. Também usei abacate comum e não o ideal que é o do tipo hass ou fuerte, aqueles menorzinhos e mais densos. No lugar do creme azedo, usei a parte densa do creme de leite misturado com um pouquinho de kefir drenado e, embora a receita não peça, acrescentei coentro no final porque a Lourdes disse depois que seria bom. Epazote, eu tenho no quintal e fico feliz quando posso usar exatamente o que a receita pede, mas tirei da panela antes de bater os tomates no liquidificador. Se você não tiver epazote, paciência, mas se tiver saiba que vai ficar melhor. As tortilhas, acho que cortei grande demais para caber numa colher, então recomendo que corte em pedaços menores.
Fiz só metade da receita e deu pra quatro porções. Mas precisei esperar mais que o recomendado para evaporar um pouco a água de cozimento do tomate para não ficar muito aguada. Nem precisou de parte do caldo para bater no liquidificador. E, para terminar mostrando que quase segui à risca a receita, fiquei com medo de colocar todos os guajillos e ficar picante demais e não coloquei os três (metade da receita). Mas, depois de já batido o creme de tomate, me arrependi e acrescentei mais umas fitinhas cortadas com tesoura. Não ficou tão picante assim e poderia ter seguido a indicação desde o começo.
Para o caldo de pato, cozinhei as costelas, pescoço e carcaça de um pato caipira com folhas de louro, alho, uma pimenta inteira, folhas de salsa e de alfavaca além de grãos de pimenta-do-reino, de coentro e de feno grego. Coei e desengordurei.

Tostei as pimentas e cozinhei o tomate com água, cebola, alho, guajillos e epazote.
Fiz as tortilhas com bolotas congeladas da massa de nixtamal. Prensei, cortei em pedaços e fritei. Mas o melhor é usar tortilhas amanhecidas.

Basta montar o prato na hora de servir e nhac!
Agora que você já sabe tudo o que mudei, agora que estou exposta às broncas da Lourdes, deixo aqui a receita original para que você tente seguir à risca ou faça suas próprias adaptações. Por sua conta e risco, que fique bem claro. De minha parte, posso dizer que comeria esta sopa em todas as refeições de tão boa que ficou, embora saiba que, claro, a de qualquer mexicano será sempre melhor.
Sopa de tortilla. Por Lourdes Hernández

6 chiles guajillo
2 chiles pasilla
12 tortillas grandes
óleo de milho pra fritar
4 x de tomate picado
1 1/2 litros de água
1 cebola branca
4 dentes de alho grandes
1 galho de mastruz grande
pitada de bicarbonato
3 l de caldo de frango ou legumes
1 quilos de queijo meia-cura em quadrinhos
4 abacates manteiga em quadrinhos
300 ml de creme azedo
limpar e assar os guajillos
abrir e fazer tirinhas com o chile pasillas (vc vai fritar ou assar na grelha para esfarelar na hora de servir a sopa)
Cortar e fritar as tortillas
Misturar tomates e os seguintes 5 ingredientes numa panela grande + os guajillos.
Ferver, reduzir + 6 minutos
Bater com o caldo
Esquentar óleo acrescentar molho de tomate + 2 minutos e o resto do caldo.
Ferver
Cozinhar 8 minutos, sal.
Servir com tortilla, chile, queijo, avocado e creme
Lourdes também faz algumas adaptações:
"A sopa de tortilla é nossa princesinha,
eu colocaria junto com os guajillo, um dos chiles pasilla, e só deixaria um para esfarelar na hora, não precisa mais e vai somar sabores ao chile guajillo
buen provecho y mil gracias!"
E mais: "Guajillo é o mais vermelho e o que vc mais tem, e o ancho-pasilla só mandei dois. Mas mistura um deles com o guajillo na sopa e só torra o outro na frigideira para esfarelar sobre a sopa na hora de servir com cubinhos de abacate, aquele queijinho que vc tem, tira da geladeira para que fique mais sequinho, creme azedo e coentro, tou com fome, beijo, Lourdes"

terça-feira, 29 de março de 2011

Araçá urbano

Era fim da tarde e a mulher fechava atrás de si o portão depois de um dia de trabalho, ajeitando com a outra mão a bolsa no ombro e, na boca, o cigarro ainda apagado. Ao me ver colhendo e fotografando em frente à casa dos patrões, ficou parada olhando curiosa, tomou coragem e perguntou: "o que a senhora está pegando aí?" / "Araçá, que já passa da hora de colher"/ "E pra que serve?"/ "Pra comer, é bom, nunca provou?"/ "Sou faxineira aqui tem anos e pra mim esta árvore é só mais um estorvo. Nesta época, toda vez que venho aqui tenho que varrer pro lixo um monte desta frutinha que se esborracha na calçada, pensava que era venenosa". Foi embora não muito convencida de que podia comer.
Já falei deste mesmo araçá em 2009. E dei uma receita do araçá gaúcho aqui. Mas gostaria de ter dito àquela mulher que ela é mais sortuda que eu, que sempre chego atrasada pra colher as frutinhas nunca vistas em supermercados.
Outro dia passei por aquela curva de esquina e vi a árvore solitária entre asfaltos e ônibus apressados, vermelha de frutos, com dois homens colhendo. Estava de carro e não pude parar. Quando voltei, era tarde. Várias bolinhas vermelhas já tinham caído e sido varridas para o lixo. Outras, acho que os homens levaram.
Teria dito também que ela estava perdendo uma ótima fonte de vitaminas. O araçá vermelho,
Psidium cattleyanum, tem mais vitamina C que as laranjas. E que é uma fruta nativa da Mata Atlântica, que não demora a frutificar (dois, três anos) e a chamar de volta a fauna de áreas degradadas. E, claro, para além destas qualidades, que é uma iguaria em sabor, que lembra a goiaba, sua parenta próxima.
Mas peguei só umas duas frutinhas pra comer em casa e virei a curva cantando
Amora com Renato Teixeira: "Depois da curva da estrada/ Tem um pé de araçá/ Sinto vir água nos olhos/ Toda vez que passo lá/ Sinto o coração flexado/ Cercado de solidão/ Penso que deve ser doce/ A fruta do coração..."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Manteiga de amendoim caseira e o vendedor de amendoim


Já tinha feito manteiga de amendoim e publicado aqui, mas desta vez quis reproduzir o produto que comi no Senegal, uma manteiga lisa e pura, sem nenhum outro ingrediente além do amendoim torrado. Para fazer uma receita doce com cuscuz de milhete e suco do fruto do baobá, vou precisar desta manteiga (e tenho que usar logo antes que o Marcos acabe com ela).
Vários pratos senegaleses doces e salgados levam este creme como ingrediente. Fica delicioso nos molhos para peixes e frango. Ou simplesmente para comer com pão.
Descobri que não é mesmo necessário nada além do amendoim, de preferência ainda morno - nem mel, nem óleo ou água. O ingrediente maior é paciência. Você começa a bater no processador e acha que não vai virar uma pasta nunca. Depois que vira uma farofa fina é necessário continuar batendo. Primeiro vira uma bola, mas você tem que mexer e continuar batendo. Até que vira esta mistura cremosa e quase fluida com a que está vendo na foto. Na geladeira ficará com uma textura mais firme, mas em temperatura ambiente fica bem mole, boa para fazer molhos, usar em biscoitos, bolos etc.
Comprei amendoim com pele e torrei no forno. Deve-se torrar até que a pele comece a rachar e desgrudar do grão. Basta, então, tirar a pele esfregando os amendoins entre as mãos e passar por peneira grossa.

Ou, se quiser, compre amendoins quentinhos do Seu Gelson - veja vídeo. Neste caso, acho melhor passar por peneira também para tirar o excesso de sal se quiser uma manteiga neutra para combinar também com ingredientes doces.



Parêntese um: Seu Gelson vende amendoins há dez anos na mesma esquina, aqui no meu bairro - Lapa. Quando Marcos tinha consultório aqui perto e voltava a pé para casa, de vez em quando chegava com um cone de amendoim quentinho do Seu Gelson para mim. Sempre vi o vendedor na mesma esquina, mas nunca parei para conversar. Nesta última semana tive vontade e parei um pouco para uma prosa.
Foi assim que fiquei sabendo um pouco de sua história. Nascido na roça, ele veio da Paraíba pra São Paulo para trabalhar em fábrica. E trabalhou muito em empresas metalúrgicas e de outros ramos, mas disse que é como um pássaro solto, não consegue trabalhar engaiolado. Por isto, largou tudo e foi para aquela esquina com seu instrumento de trabalho.
Só precisava de um apoio charmoso para os amendoins. O balde de alumínio com portinholas tem embutido o lugar para a brasa, que mantém o amendoim quentinho, e para uma pequena reserva de carvão. De um lado, Jesus e do outro, um real, o preço do produto. E os cones, feitos com papel sulfite, ficam sobre uma forma de pizza apoiada na boca do balde.
Não foi difícil descobrir um bom ponto. Escolheu este ponto porque à tarde o trânsito para e ele pode levar um pouco de alegria aos motoristas aborrecidos que o chamam. Não é do tipo de vendedor que oferece e insiste. Fica ali parado e atento aos chamados. A não ser por problema de saúde, diz que nunca falta ao trabalho e costuma cumprir seu horário com prontidão e sem patrão. E mesmo quando acorda indisposto, é só ir chegando perto daquela esquina que reage com a alegria de um pardal solto. Ah, como se sente livre e feliz ali, mesmo com tanta poluição. Nada mais lógico, então, que cuide do seu local de trabalho. Daí os ganchinhos sem ponta no poste para a sacola de carvão e para o guarda-chuva.
Já quiseram até usar o mesmo ponto para atividades ilícitas, "Ô, tio, a gente só quer pegar a bolsa de uma tiazinha distraída com vidro aberto", mas ele reagiu: "Nada disso, vazam daqui, que vocês vão sujar pro meu lado". Os moleques concordaram em dar o fora e nunca mais apareceram porque ali é lugar de trabalho honesto. Com o dinheiro do amendoim sustenta a família em Francisco Morato e já colocou uma filha na USP. Joice estuda letras graças ao cursinho preparatório que Seu Gelson conseguiu pagar com a renda do amendoim. Em gratidão, ela criou para ele conta de email e twitter, "Já tenho um seguidor!" diz ele.

Eu não tenho twitter, mas se você tem, siga-o, que ele vai ficar feliz. E, melhor ainda, compre o amendoim dele, contrate-o para sua festa etc. Eu garanto, o amendoim está sempre fresco e quentinho. E ele trabalha de uniforme.



Email: gelson_amendoim@hotmail.com Twitter: @carecaamendoim

sexta-feira, 25 de março de 2011

Globo Reporter sobre orgânicos

O que precisei colher no dia de desfazer o quintal para reforma, no ano passado

Quando o Globo Reporter veio aqui o quintal estava vazio de coisas de comer, pois havia sido todo refeito por causa de uma reforma na cozinha. A intenção era mostrar que mesmo num pequeno pedaço de terra na cidade grande dá pra cultivar parte do que você come. E, claro, sem precisar usar nenhum adubo industrializado ou defensivos, afinal toda água de lavagem de verdura pode contribuir com nutrientes para a terra, sem falar no pó de café, na água do arroz etc.
Isto era janeiro e se voltassem hoje, quando passa o programa, veriam que já há por aqui alguns carás moelas grandes, a cúrcuma em flor, ora-pro-nobis grande e espinhenta e a orelha de padre já abanando com algumas flores e vagens. A taioba já vai voltando ao normal; os almeirões que já floriram se preparam pra partir; a couve venceu uma turma de lagartas e se recupera desesperadamente; o manjericão tomou lugar de tudo; o mentruz, seu comparsa, também. Já o chuchu queria espaço e liberdade e se ressentiu quando teve que ser arrancado à força dos arbustos de flores do vizinho sufocados pelas gavinhas (só os arbutos!).
Mas este pedaço de nada de terra já produziu muita couve, uva, chuchu, cruá, framboesa, pimenta, cúrcuma, tomates entre outros.

O corredor vazio se encheu com as chuvas de verão. Já não já mais lugar para sentar. Manjericão, coleu e mentruz tomaram conta.

O que antes era uma turminha bem comportada de salsa, cebolinha, manjericão, coentro e alfazema, agora é só o manjericão desvairado em gangue com o manjericão-anis.
Para os do ar, o céu é o limite! Cará-moela e orelha-de-padre não passam aperto.
O cará-moela não deixa mais a janela se fechar. Só falta entrar pelas portas.
Não sei se vai aparecer no programa, já que o lugar estava tão descuidado no dia, mas gravaram também este pezinho de manjericão que plantei na praça e ele era minúsculo. Agora já chama tanta abelha e me dá tantas flores para perfumar a cozinha que faz gosto.


Nota: não sei como será a edição, mas já tenho cá minhas auto-críticas: deveria ter falado isto e aquilo, não precisava ter falado aquilo outro, deveria ter pensado numa comida e não improvisado na hora, deveria ter prendido este cabelão, deveria ter pensado numa roupa, deveria, deveria, deveras.... Ah, veja lá, agora já foi. É hoje no Globo Reporter, depois da novela (ou ainda tem o tal do BB?) e seja o que deus quiser.

Milho: plantar no São José

Sábado, 19, foi dia de São José. E, como todo ano escuto da baiana Eliana a mesma toadinha "é hora de plantar o milho", resolvi não deixar passar a data em branco pra ver se o ciclo do sertão se confirma também aqui na selva de pedra. Fui à praça em expedição com Marcos, Dendê e a menina Amanda, filha da amiga e vizinha Rose. Plantamos o milho perto da nossa "plantação" de manjericão, mandioca e palmas.
No sertão, se a trovoada durar e São Jorge ajudar, vão colher milho no São João. Fresco para as festas de fogueira e seco para o ano inteiro, pro fubá, pro cuscuz, pra canjica, pra criação. Tomara que assim seja.
Já por aqui, vamos torcer para que ao menos germinem as sementes agora já com as chuvas fracas. Se não para colhermos espigas, pelo menos para que a Amanda veja o verdejar sair do milho que plantou - e ela já anda ansiosa, que este milho não brota nunca.
Os Guarani dão tanta importância para o alimento milho, que chegam a benzer os grãos que serão plantados para garantir boa colheita. Não ganhei o dom de acreditar fácil nas coisas, mas acho bonito isto de benzer e de plantar no São José pra colher no São João.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Quinta sem trigo 14: tortinhas de banana com massa de batata-doce

Baseada naquela massa de coxinha com batata e farinha de mandioca, de vez em quando brinco com outros amiláceos. Desta vez misturei purê de batata doce e farinha de mandioca bem fininha e gomada, comprada no Mercado da Lapa. Tentei só os dois ingredientes, como a massa de coxinha e, embora na fritura chegue a dourar, no forno a massa assada fica esbranquiçada. Então juntei uma proteína na forma de ovo e um pouco de açúcar pra formar aquela reação de Maillard que dá vida dourada à comida quando não a queremos pálida.

Usei uma farinha bem fina e polvilhada para dar mais liga

A massa fica com consistência de massa de modelar
Abra entre duas folhas de plástico com rolo ou na prensa e corte com aro. Para ficar com as bordas mais arredondadas, pressione o arco por cima do plástico e só então o retire.
Se quiser, faça pregas nas bordas para conter o recheio e pré-asse.
Tortinha de banana com massa de batata doce
Massa
350 g de purê de batata doce frio (a batata cozida e amassada ainda quente - este peso deve ocupar aproximadamente 1 e 3/4 xícara)
1 ovo pequeno
1 colher (sopa) de açúcar
1 colher (sopa) de fermento em pó
1/2 colher (café ) de sal
Raspas de um limão rosa
125 g de farinha de mandioca polvilhada (cerca de 1 xícara)
Recheio
4 bananas pratas
1 colher (sopa) de canela em pó
1 colher (sopa) de açúcar
Raspas de um limão rosa
Obs: medidas sempre padronizadas e rasas
Misture bem todos os ingredientes e amasse até conseguir uma massa com consistência de massa de modelar. Retire pequenas porções de 40 g mais ou menos e abra entre duas folhas de plástico, com prensa ou rolo, para que fique com cerca de 2 milímetros de espessura. Corte com aro metálico para que fiquem todas com tamanho uniforme (o restante sempre pode se juntar à massa que ficou). Retire o plástico com cuidado e passe os discos para uma assadeira untada. Fure com garfo e leve para assar no forno médio por 15 minutos. Vire as massas e distribua entre elas as bananas fatiadas. Polvilhe o açúcar misturado com a canela e espalhe raspas do limão. Leve novamente ao forno só até as bananas amolecerem - cerca de 10 minutos. Se quiser, sirva com mel. Rende: 12 tortinhas

A massa fica macia e flexível. Pode comer civilizadamente com garfo, mas também pode dobrar e Nhac!

Pode juntar duas tortinhas como sanduíche e Nhac! (bom para a criança levar de lanche!)
Pode fazer como pastel, fritar e Nhac!
Para fazer pasteis,
tire o plástico de cima e coloque rodelas de banana sobre a massa. Dobre com o auxílio do plástico de baixo para não espichar a massa. Leve para assar em forma untada. Ou frite.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tâmaras em Paris

Claro, as tâmaras não são de Paris, mas estão presentes nas feiras e mercados parisienses frequentados por imigrantes árabes. No Dezoito, em Belleville, em qualquer canto que tenha um árabe, tem tâmaras por perto. São frescas, amarelas e crocantes ou secas no próprio cacho, brilhando de doces e douradas como como carameladas.
A planta: Palmeira originária do Golfo Pérsico, a tamareira (Phoenix dactylifera L.) era considerada como a árvore da vida pelos Caudeus, que comiam os frutos e botões, bebiam a seiva, usavam a fibra para tecer e as amêndoas como combustível. Por causa da grande quantidade de açúcares é muito usada no preparo de geleia, licor, aguardente, vinagre, álcool e as passas, mais comuns por aqui. Da palmeira pode ser extraído ainda o palmito, também usado na alimentação humana.
No Brasil há plantações de tâmaras especialmente no Nordeste, mas embora tenham se adaptado bem ao solo e ao clima, não é ainda uma cultura de relevo. Parece que duas variedades, a medjool e a azahidi, chegam a frutificar aos dois anos, sendo que na região de origem isto só acontece aos oito.
Como é bastante rústica no cultivo, a tamareira dese
nvolve-se bem em terrenos arenosos ou salinizados, alta luminosidade, baixa umidade e temperaturas altas, hoje as maiores plantações de tamareiras situam-se em regiões de pouca chuva como no Irã e Iraque, que são considerados os maiores produtores. E também no norte da África e países de climas desérticos.
Nas regiões de origem há muitas variedades, sendo que apenas algumas poucas são exportadas para a Europa. Os gregos chamavam-na de daktulos (dedos) por causa de seu formato, daí o date do inglês ou dactilylifera do nome latim.



Parêntese 1: Em Paris comprei nesta banca tâmaras frescas e passas, levei pra casa (da Leda, minha amiga e mãe dos meus sobrinhos) e fotografei. Comemos com vinho de sobremesa, as crianças se fartaram, gostamos muito mais das passas, mas guardamos as frescas para amadurecer um pouco mais, já que tinha lá no fundo ainda um certo travo. No outro dia, a Leda foi trabalhar e eu tive vontade de comer as tâmaras frescas. Procurei por todo canto, até no quarto das crianças e nada. Pensei: tudo bem, comeram tudo. Não perguntei no dia porque esqueci.
No outro dia falamos de tâmaras e me lembrei de perguntar se haviam deixado algumas para mim. A Leda riu e mostrou o altar. Estava lá o cacho inteiro para Buda. Tenho certeza que ele escondia o cacho toda vez que olhava pra ele, porque como posso não ter visto? Eu podia agora comer, mas preferi deixar os frutos ali pra ver se viram passas - aliás, está na hora de perguntar se ainda resistem.
Parêntese 2: Esta tamareira fica na praça perto de minha casa. Não sei quem plantou, mas acompanho ano a ano para ver se frutifica. Até agora, nada.
Parêntese 3: sempre que falo de tâmaras lembro da minha amiga Silvinha. Como não tenho nenhuma lembrança infantil destas frutas que só conheci na maturidade, uso memórias alheias talvez com uma ou outra fantasia. Nesta casa em Castro Alves - BA, que conheci em 2005, morou vovó Diva, como Silvinha se refere a ela - cheia de zelos e baús de enxoval bordado em Paris. O melhor da casa não eram as salas de tábua corrida nem a ducha forte do banheiro grande como sala. Era sim o pequeno pomar no fundo da casa com tudo o que era fruta: sapoti, graviola, carambola, laranja lima e lima da pérsia, pinha, laranja de chupar e de fazer doce, tangerinas, mangas, entre outras. Vovó Diva, mulher das geleias e das compotas, gostava de fazer compota de figo e comer manga carlota, redondinha, muito doce e fiapenta. Silvinha, menina, gostava de manga espada, doce no ponto certo e com um certo azedinho. E sapoti, muito sapoti. Agora, o que fazia mesmo sucesso entre a família toda eram as tamareiras com seus cachos de dedos amarelos, que ninguém tinha paciência de esperar madurar por completo. Adultos e crianças devoravam os frutos doces, crocantes e úmidos. E tudo começou porque um agrônomo, um certo Dr. Heguet, começou ali na cidade um cultivo grande de tâmaras num terreno público. Anos 50 talvez. Foi um sucesso, as tamareiras se sairam bem, mas todas foram derrubadas para dar lugar a um campo de pouso que parece que nunca foi muito usado. Sorte que algumas mudas já haviam se espalhado pelos quintais. Hoje também quase todas, inclusive as da vovó Diva, foram derrubadas - o terreno do pomar foi vendido e o novo proprietário passou o facão. Azar dele.