sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dr. Marcos no Manos e Minas

O bom de ter blogue também é que a gente pode fazer propaganda da família inteira. O Marcos falou um monte para o programa Manos e Minas, da TV Cultura, sobre uso de fones de ouvido. Se quiser ver e ouvir, é só clicar aí que, depois dos cortes da edição, sobrou alguma coisa. 
http://www.youtube.com/watch?v=iasjX70K7ww

Ovos com amendoim cricri



Não precisa me dizer, eu sei que hoje é dia de casamento real e que a Páscoa já era. O bom de ter um blogue é que a gente pode tratar de assuntos quentes e também frios e requentados. E ninguém pode reclamar: tô pagano! Como disse ontem o Chico, filho da amiga Veronika, "mamãe, porque a gente não come rena na Páscoa e coelhinho no Natal?".  


O fato é que o único símbolo de Páscoa a que estive exposta nesta última comemoração foram estes ovos recheados com amendoim, típicos do Rio Grande do Sul. Porque na sexta-feira fizemos piquenique com salame, foi no sábado que comemos peixe assado e no domingo almoçamos na Lancheria, comida de bufê com arroz e feijão. Não comi um só grama de chocolate e não fez falta. Acho que agora eu comeria.  Na casa do Rui e da Mariângela ninguém liga a televisão, ninguém vai a Shoppings e ninguém liga pra ovo de chocolate. A Laurinha ganhou um ovo pequeno e nem abriu. Eu gosto de chocolate, mas nem tanto e não precisa ser em formato de ovo. Acho um desperdício de material e fantasias. Mas gosto da simbologia do ovo, que pode ser o de galinha.

Na feira de artesanato encontramos os tais ovinhos cheios de amendoins cricris ou vazios para se completar em casa com receitas caseiras. Os gaúchos ficaram espantados em saber que eu não conhecia. Coisa dos imigrantes alemães.  A tradição pedia ovos cozidos mas como por aqui o amendoim era farto e a proteína nem tanto, nos tempos das colônias rurais talvez fosse mais vantajoso comer os ovos e guardar as cascas, assim as crianças poderiam ganhar vários ovos coloridos e decorados, que podiam ser preparados com antecedência sem o risco de estragar. Com a vantagem ainda de que as cascas poderiam ser compradas vazias e já decoradas, prontas para serem recheadas com o amendoim que se fazia em casa.
Os de cima são da feira de artesanato. Abaixo, os branquinhos, fiz com a receita da mãe do Rui. São mais crocantes e delicados que os que comprei - estes ao lado, com pele
A mãe do Rui, dona Ilsa,  comprou neste ano nove dúzias de cascas pintadas vazias e encheu todas elas com seus amendoins para dar aos netos.  Comprei só uma dúzia dos cheios para trazer para as crianças que conheço, mas dona Ilsa me deu sua receita, feita com o amendoim descascado - nada de pele, nescau ou pó royal, só açúcar, água e o ponto certo. Mais gostoso e delicado que os feitos com pele. Também fica diferente dos que conhecia porque o amendoim não vai à panela junto com a calda. Assim, continua muito crocante. E o fato de despejar a calda sobre o amendoim frio, numa tigela fria, faz com que a calda resfrie e cristalize muito mais rapidamente. 


Segui a receita à risca e não teve erro.  Você pode deixar para encher os ovos na próxima Páscoa, mas o amendoim crocante é distração gostosa para qualquer hora. A única interferência minha foi medir a temperatura da calda com termômetro, já que a indicação era apenas uma calda bem espessa. 






Amendoim cricri para encher ovos ou passar o tempo. Receita da dona Ilsa, mãe do Rui Gassen


2 xícaras de amendoim cru
1 xícara de açúcar 
1/2 xícara de água


Torre o amendoim no forno até a casca trincar. Esfregue com as mãos e passe por peneira grossa, de preferência ao vento, para se livrar das películas.  Coloque o amendoim numa bacia de louça ou inox. À parte, faça a calda. Leve o açúcar com a água ao fogo e deixe formar uma calda espessa, ou até que pingando um pouco em água fria, consiga modelar com os dedos uma bala dura. Se tiver termômetro, de 125 a 127 graus.  Despeje sobre o amendoim na bacia e mexa com colher de pau rapidamente até esbranquiçar e os grãos se soltarem. Está pronto. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quinta sem trigo 19: Pão de queijo

Estes, fiz por aqui 
Lá em Porto Alegre comemos bem o tempo todo, com muitos mimos e paparicos. No sábado à tarde Mariângela fez pãezinhos de queijo que comemos com natas e geleias acompanhados de café. 


Lembrei, então, que ainda não dei nenhum pão de queijo aqui no quinta sem trigo e pedi a receita - claro, porque estava muito bom. 


Brasil afora, especialmente no Sudeste,  as boas variações de pão de queijo são tantas que é difícil dizer qual é o melhor. Meio a meio polvilho doce e azedo, um ou outro,  mais ou menos ovos, queijo meia cura, queijo parmesão ou outro duro, óleo, azeite, banha ou manteiga, leite, água, leite e água, ferventes para escaldar ou tudo frio. A gosto do freguês. E pra saber de verdade a sua preferência o ideal seria fazer testes comparativos simultâneos. 


Mas uma coisa é certa,  o pior pão de queijo muita gente deve conhecer - são aqueles pães feitos a partir de misturas prontas que às vezes são as únicas opções para acompanhar um cafezinho fora de casa. É comer e se arrepender.  Se o pãozinho caseiro leva apenas polvilho de mandioca, queijo, ovos, um tipo de gordura e um líquido, o industrializado pode levar polvilho doce, gordura vegetal hidrogenada, leite em pó integral, condimento preparado sabor queijo romano (queijo, soro de leite em pó, gordura vegetal, maltodextrina, sal, proteína láctea e aromatizante), condimento preparado sabor queijo (soro de leite, sal, maltodextrina, amido de milho, amido de milho modificado, extrato de levedura em pó, realçador de sabor glutamato de sódio, substâncias aromatizantes naturais e idênticas ás naturais, antiumectantes fosfato tricálcico e dióxido de silício, acidulante ácido cítrico), sal, queijo em pó, realçador sabor glutamato monossódico, acidulante ácido láctico e antioxidante BHT (lista de ingredientes de uma mistura encontrada no mercado). Serve para matar a fome, mas o retrogosto é horrível, acentuado pelo glutamato, que parece acentuar sabores bons e os ruins também.


Estes são os feitos pela Mariângela, que comemos em Porto Alegre


Bem, Mariângela chegou finalmente à fórmula de seus deliciosos pãezinhos, dos quais ela, Laura e Rui sentirão falta em Barcelona,  depois de modificar aqui e ali uma receita de pão de queijo de liquidificador - já dei  uma delas aqui no Come-se.  Como tudo o que ela faz é muito gostoso e prático, não usou liquidificador nem escaldou o polvilho. É tudo frio misturado numa tigela.  Testei aqui em casa exatamente a mesma receita usando também o queijo parmesão. Como ela usou xícara de 200 ml, julguei melhor pesar o polvilho para não haver dúvidas para o leitor. 


Sei que é impossível comer um só, mas não se entusiasme com a comilança. Só por curiosidade, calculei as calorias deste pãozinho. Se fizer um com 50 gramas, saiba que ele será mais calórico que um pãozinho francês de mesmo peso (172 Calorias ante 135).
  
Pode fazer bolinhas ou porções tiradas da massa com duas colheres

Podem ser feitos em assadeiras ou forminhas próprias. Não precisa untar
Pão de queijo. Receita da Mariângela Dib


3 xícaras de 200 ml de polvilho azedo (400 g)
200 ml de leite 
100 ml de óleo 
2 ovos 
150 g de queijo parmesão ralado grosso 
Sal a gosto 


Coloque todos os ingredientes numa tigela e misture com as mãos até formar uma bola coesa. Faça bolas de 40 ou 50 g, ou retire porções com duas colheres de sopa, conforme se vê na foto. Coloque em assadeiras que não precisam ser untadas - deixe espaço entre os pães. Leve ao forno bem quente (280 graus) pré-aquecido e deixe assar por cerca de meia hora a 40 minutos ou até dourar. Sirva quente. 


Rende: 18 a 23 pãezinhos 


Passe manteiga ou não e Nhac! 

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Arroz integral não é tudo igual



No sábado, lá em Porto Alegre, visitamos, Mariângela e eu,  a feira ecológica, infelizmente esvaziada por causa da chuvarada do dia anterior. Muitos feirantes vêm de longe sacolejando por estradas esburacadas.  Mas demos sorte de encontrar com Seu Juarez.  Só para não me repetir, vale a pena ver o vídeo em que o produtor fala do seu arroz crotalária: http://come-se.blogspot.com/2009/06/arroz-moti-aromatico-ou-arroz.html. E o post onde conto a história sobre o seu começo como produtor orgânico: http://come-se.blogspot.com/2008/07/seu-juarez-dos-arrozes.html.  


Ficamos sabendo que neste ano a produção do arroz crotalária (imagine uma mistura do japonês moti com arroz jasmim tailandês, porém, integral - inacreditavelmente delicioso) foi totalmente comprometida pelo ataque de um tipo de mosca. Quase não sobra para semente, mas ele não desistiu e vai descobrir uma forma natural de manejo para recuperar o arroz para as próximas safras. Tomara!


Enquanto fomos à feira e ao mercado, Rui ficou encarregado de ir adiantando a Piava cevada com milho, pescada pelo irmão. Já falei desta piaba e dei a receita do Rui aqui: http://come-se.blogspot.com/2009/01/cevando-piava-ou-piava-assada.html



Usou ervas que ele mesmo colheu na hora e assou o peixe coberto com papel alumínio. Chegamos e preparamos o agora raro arroz crotalária do Seu Juarez, que Mariângela ainda tinha da última colheita - só cozido com água e sal em panela comum e depois temperado com nata e cenoura ralada. A carne delicada da piava, livre dos grandes espinhos,  marcada apenas pelo aroma das ervas do quintal casou como uma kate com o rei dos arrozes.




Além dos vários tipos de arroz do Seu Juarez,  cateto vermelho, cateto marrom, jasmim, moti e farroupilha, comprei também batatas doces nesta outra banca. Cruas, brancas, laranjas, assadas. 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Minhas caixinhas de abelhas jataí




Antes de ler o post, se quiser saber o que já falei sobre mel de jataí, veja aqui
Sobre a composição do mel de jataí, há um bom artigo aqui.  

Como comecei a falar ontem, neste feriado fui a Porto Alegre me despedir dos amigos Rui, Mariângela e Laurinha e trazer para São Paulo a melhor herança que eles poderiam me deixar antes de se mudarem de mala, forno, torno e cuia para Barcelona. Claro, a melhor herança é aquela sensação indestrutível de amizade e os bons momentos passados juntos que ficam impregnados nas células e na alma para sempre, mas ficar com as abelhas mansas, amarelas de sapatinhos, que eles tanto estimam, é como ficar com um pedaço imortal da família João-de-Barro.

Marcos voltou de avião e eu fiquei para acompanhar as abelhas que foram acomodadas em caixa de papelão ventilada, sem que ninguém soubesse que ali viajariam milhares de seres vivos talvez também apreensivos com a mudança.  Já eu, estava muito mais que apreensiva pois não encontrei nenhuma regulamentação sobre  transporte de animais que discorresse especificamente de abelhas nativas sem ferrão e já domesticadas. Como sabíamos também que as abelhas mansas não colocavam ninguém em risco, não foram extraídas da natureza,  que é um tipo de abelha encontrada em todo o Brasil, que já tinha viajado de ônibus de Santa Rosa pra Porto Alegre e que dorme quando está escuro e fresco, ficamos tranquilos quanto a tudo isto, mas ainda assim fiquei apreensiva durante as 18 horas que durou a viagem. Rui fechou o tunel de entrada das caixas com tela para ventilar e impedir a saída. Deu certo. 

De Porto Alegre para São Paulo
Assim que cheguei, já fui acomodando as caixinhas em local sombreado e em frente a uma cerca de flores. De vez em quando vou olhar pra ver se estão voando ao redor. Estão. 

Não podia, no entanto, sair de lá sem saber o que fazer com a casa das minhas novas companheiras. Por isto, antes de acomodar as caixinhas, Rui abriu uma delas e ensinou como extrair o mel sem incomodar as abelhas. Agora já sei mudar de caixa, tirar o mel, o pólen e, sorte das sortes, identificar uma rainha que, para fins didáticos, estava por cima quando descamamos a parte mais clara da colmeia. 


Para quem quer começar a criar também, saiba que não pretendo ser criadora comercial, que estas abelhinhas darão pouco mel, que não tenho intenção de vender, que vou mexer nelas apenas uma vez por ano, que conheço um meliponário profissional que poderá lhe ajudar caso queira ter algumas caixas na sua varanda (http://meliponariocapixaba.blogspot.com) e que tudo o que sei é o que escrevi nos posts linkados lá no início deste texto e o que acabei de aprender com o amigo Rui sobre o manuseio das caixas. Que divido agora com você.   


Veja o passo-a-passo:

Rui abre a parte de cima da caixa 
Retira uma camada de cera que recobre a colmeia

No meio da caixa um círculo mais claro. Fica aí o "edifício" feito em camadas cheias de ovos 
Ao redor do "edifício de trabalho", capsulas com alimento: algumas com polén  e outras com mel 
Descamando um pouco o "edifício", nossa sorte: vimos a rainha trabalhando, camada sobre camada com casulos de ovos
O que se faz é preservar o "edifício" e descolar com faca grandes pedaços ao redor, onde estarão mel e pólen
      
Agora é só separar os potinhos com pólen e os que tem mel - para extrair, é só passar em espremedor de batatas ou ir tirando com colherinha. Por último é bom passar por peneira fina, colocar em vidro e guardar na geladeira

Laura e eu brincamos de fazer potinho com a cera.
Abaixo, o pólen passado por peneira


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Piquenique em Porto Alegre


Fomos a Porto Alegre neste feriado em tripla missão: visitar os amigos, Rui, Mariângela e Laura,  nos despedirmos, já que a família ceramista está indo de mala e cuia pra Barcelona e, razão que me fez enfrentar bravamente 18 horas de ônibus em vez de avião, buscar o presente herdado: três caixinhas de abelhas jataí. Vieram bem e já passaram a tarde fazendo o reconhecimento de área e sobrevoando os cachos de flores de feijão orelha-de-padre. Depois eu conto mais.

Piquenique com tudo a que se tem direito, incluindo formiguinha carregando lasca de pão 

Como despedida fizemos bons passeios por Porto Alegre e arredores. Na sexta-feira fomos a uma reserva em Itapuã, onde pudemos molhar os pés na praia no Rio Guaíba, ter os dedos beliscados por lambaris, fazer piquenique sob a sombra de árvores e voltar sob forte chuva. No sábado, visitamos a feirinha de orgânicos com muitos feirantes faltantes por causa da aguaceira, mas deu pra comprar os tipos especiais de arroz integral do Seu Juarez. E ainda sobrou tempo para ir ao Mercado Municipal comprar charque, linguiça e queijos coloniais. Domingo teve brique,  onde o Rui vende suas cerâmicas, feirinha de antiguidades, passeio na praça, boa comida na Lancheria, café com amigos em comum, Fátima e Gil e fim de tarde arrumando malas cheias de outras boas lembranças materiais e sentimentais. Agora, só nos veremos em Barcelona. Ô tristeza de saudade!

 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Quinta sem trigo 18: Bolo de especiarias com frutas



















Bolo de especiarias com frutas 
5 ovos
1/2 xícara de manteiga derretida
180 g de cenoura (2 médias) cortada em rodelas
200 g de mandioca crua descascada e picada em cubos
1 xícara de açúcar
1 pitada de sal
1 colher (chá) de canela
1 colher (chá) de especiarias misturadas, trituradas: cravo, noz-moscada e erva-doce
1 xícara de fubá
1 colher (sopa) de fermento
1 xícara de frutas secas picadas (damasco, uvas passas brancas e pretas, tâmaras, figos secos etc), deixadas de molho por uma hora em rum, suco de laranja ou a bebida que quiser - depois escorridas e polvilhadas com fubá
Açúcar de confeiteiro para polvilhar

Coloque no liquidificador os ovos e a manteiga derretida já fria. Ligue o aparelho e vá juntando as rodelas de cenoura. Em seguida, junte a mandioca picada. Bata bem até ficar tudo bem triturado. Passe para uma tigela e junte o açúcar, o sal, a canela e as outras especiarias, o fubá e o fermento. Mexa com batedor de arame ou colher de pau. Junte as frutas já preparadas e misture.  Despeje em forma redonda untada com manteiga e polvilhada com fubá. Leve ao forno médio e deixe assar por 40 minutos ou até ficar dourado e firme. Desenforme e polvilhe açúcar de confeiteiro, de preferência, usando uma máscara para fazer algum desenho (toalha de crochê, por exemplo).  Ou, se preferir, faça um cobertura de chocolate: dissolva 180 g de chocolate meio amargo em meia xícara de creme de leite, em banho maria. Ou ainda use a mesma cobertura do bolo de cenoura, com link aí embaixo. Sirva frio.  

Rende: 16 fatias


Usei a grade da cuscuzeira para fazer o desenho
Se quiser outra opção para Páscoa, veja também:
Bolo de cenoura 
Bolo de abóbora com chocolate

E boa Páscoa, que eu volto na segunda! 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pão com ovos inteiros na massa. Inteiros mesmo!


Há algum tempo estava folheando meu livro de pães da Coleção Time Life (Cozinhar Melhor/ Técnicas e Receitas) e uma receita me chamou a atenção "a picnic loaf" ou Pão de Piquenique. E, mesmo sem foto, mesmo sem que eu tenha entendido direito a montagem, "forme rolinhos finos como lápis com a massa restante e empregue-os para fazer um padrão xadrez, que prenderá o ovo e a linguiça à base da massa", resolvi fazer o pão para o nosso último piquenique - ele está lá nas fotos e fez sucesso.  Não segui a receita da massa, mas gostei da ideia de levar ovos crus com casca para cozinhar junto com o pão.  Depois fui procurar na internet e descobri foto para o italian picnic loaf  num site do Slow Food. Veja aqui - só 10% das pessoas clicam link, mas este vale a pena. No piquinique anunciei como pão da páscoa, já que estávamos às vésperas dela e os ovos a anunciavam. 


Aí,  coincidentemente, na semana passada o caderno Paladar falou dos pães de Páscoa pelo mundo e, num texto à parte, falava dos folares  portugueses, pães doces ou salgados, que sempre levam ovos na massa, símbolo da ressurreição,  e algum tipo de carne nas entranhas, como diz o título do texto. Junto com a massa são cozidos linguiças, toucinhos, bacon, salpicões, lombinhos, frango etc, com muitas variações a depender do local ou se aldeias ou grandes cidades. E ali, no meio da matéria, havia uma foto pequena do folar de Chaves, com um ovo no centro. Infelizmente o assunto não é aprofundado sobre os ovos, se vão crus ou cozidos, ou sobre a tradição de se dar folar aos afilhados na Páscoa - o número de ovos deve ser o mesmo de anos da criança presenteada.  No dicionário Lello Popular, estar lá: "Folar: fogaça; bolo ou presente que os padrinhos que os padrinhos dão aos afilhados ou os paroquianos ao pároco, pela Páscoa; direito paroquial de receber esse bolo ou esse presente". 


O fato é que não tenho afilhados muito menos párocos a quem dar folares com ovos, então, por aqui, será Pão de Páscoa pelo simbolismo, mas mais ainda pão de piquenique, pois você já leva o sanduíche completo. 


Na semana passada fui a um piquenique da minha sobrinha Tarsila e levei o tal do pão.  Todo mundo achou muito louco aquilo de ter um ovo com casca no meio da massa. Dá um pouco de trabalho para comer porque tem que tirar o ovo e descascá-lo. Já o labrador que apareceu correndo de sua dona e roubou duas fationas do pão do piquenique parece não ter se importado com isto. Num segundo engoliu o pão e o ovo com casca de tudo. Mas pensar que nunca mais vou cozinhar ovos para levar ao piquenique quando fizer pão é um alento pois economizo gás, panela, tempo, água e recipiente para levar os ovos. Basta levar também um pouco de sal e, talvez, pimenta-do-reino.  



A primeira experiência fiz sem linguiças. Furei os ovos e coloquei sobre uma massa que fiz com fermento natural. Recheei o centro com berinjelas e tomates picados, bem temperados, assados e depois misturados com pedacinhos de queijo meia cura. Cobri o recheio e distribui os ovos cobertos com cruz em volta. Antes de colocar os ovos, lave bem e fure com agulha - só para não trincar (mas eu me esqueci de fazer isto na última vez e não aconteceu nada). 



Neste, cada rolo da trança foi recheado com queijo ralado grosso misturado com claras em neve e manjericão (claras, para o recheio não sumir grudando na massa, formando um oco. Pincelei com ovo inteiro batido com mesmo volume de leite. Usei a massa de pão que dei no último post




Para este, fiz a mesma massa de pão branco citada acima, só que desta vez juntei à massa, depois de levedada, 1 xícara de azeitonas verdes e maduras picadas, 1 xícara de salsinha picada e 1 cebola grande picada em cubinhos e dourada em azeite. Fiz uma rosca (a massa dá duas), mas a forma era pequena e o buraco quase fechou.  Por cima, um gomo de linguiça calabresa dividido em quatro pedaços, além dos ovos crus. Para disfarçar o buraco quase sepultado, joguei por cima mais cebolas douradas em azeite e temperadas com sal. Foi nosso jantar ontem.

E por pouco não foi também o café da manhã de hoje da Dendê! 




Para comer, é bom cortar o ovo ao meio, desgrudá-lo da massa, escavá-lo da casca com uma colher e voltá-lo para a cavidade deixada no pão. Tempere com sal, pimenta e Nhac!   Agora, tente você a sua própria versão. 


Por esta semana chega de trigo, porque amanhã tem quinta sem gluten. E, para quem já está de folga de tudo, já desejo Boa Páscoa!  

Pão infalível

No próximo post vou pedir massa de pão, então já deixo aqui uma fórmula infalível. Outras parecidas você já deve ter visto no Come-se, mas costumo usar mais líquido e um pouco mais que um quilo de farinha, pra render mais (e um pouco mais de sal e açúcar).  E, afinal, não faz muita diferença. Mas neste usei 600 ml de água, que é pra dar um quilo certinho de farinha.  E a gordura também sempre vario, mas costumo usar sempre meia xícara: óleo, azeite, manteiga.  É claro, tudo isto para um pão mais macio. Se você quer um pão mais firme, do tipo italiano, é bom usar levain, excluir açúcar e gorduras e, fundamental,  ter um bom forno.  Já este pode ser feito em qualquer forninho doméstico ordinário como o meu. 



Pão branco 


1 envelope de fermento biológico seco (10 g) ou 2 tabletes do fermento fresco
600 ml de água morna (2 xícaras e meia - xícaras padronizadas de 240 ml)
2 colheres (sopa) rasas de açúcar (no Come-se as colheres são sempre rasas a não ser que diga o contrário)

1 quilo de farinha de trigo branca
1 ovo pequeno
1/4 de xícara de azeite + 1/4 de xícara de manteiga sem sal 

2 colheres (chá) de sal

Numa bacia grande, misture o fermento escolhido com a água e o açúcar até dissolver.
Junte um pouco de farinha para formar um mingau, mexendo com colher de pau. Aos poucos, junte o ovo, o azeite e a manteiga. Coloque mais farinha e continue mexendo. Quando virar uma massa firme para movimentar com colher, junte o sal e vá trabalhando com as mãos até formar uma massa elástica, lisa, com brilho, juntando mais farinha, aos poucos, até não grudar mais.  Se puder, faça isto numa superfície enfarinhada. Se não, trabalhe na bacia mesmo. Cubra a massa com plástico ou pano úmido e deixe em local protegido para crescer. Quando a massa dobrar de volume, divida-a em duas partes e modele duas bolas.  Coloque em forma untada e enfarinhada, cubra com pano e deixe crescer novamente – mais ou menos 1 hora (ou menos, se estiver calor). Polvilhe queijo ralado por cima e faça cortes em cruz. Leve para assar em forno pré-aquecido bem quente, por cerca de 10 minutos. Abaixe a temperatura do forno para o mínimo e deixe assar por mais 50 minutos ou até dourar. 



Notas 
- Se quiser, divida a massa em quatro, abra com rolo e molde os pães como rocambole.  Se quiser, recheio o rocambole com recheios não molhados. 
- Se quiser também, use até 50% de farinha de trigo integral ou de centeio. 
- Se tiver máquina de pão, use-a apenas para amassar - modo massa, seguindo a mesma sequência dos ingredientes e talvez ajudando com uma espátula de madeira. Cubra com plástico e fique de olho para não deixar a massa transbordar.  Pode também amassar só meia receita e usar um ovo grande batido e dividido em dois (já que a receita pede um ovo). 
- Para enfeitar a superfície do pão, pode pulverizar água e espalhar por cima gergelim preto e/ou branco, sementes de linhaça, aveia em flocos, germe de trigo, farelo de trigo, farinha de trigo etc. Sempre antes de cortar.