quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Quirquiña, uma. Porophyllum ruderale, as duas

Praticamente idênticas as duas variedades da mesma espécie Porophyllum rederale. A de cima, arnica brasileira, quase sem perfume; a de baixo, quirquiña, cheia de aroma
Aqui, todas quirquinhas. As da esquerda, brotaram espontaneamente depois de dois anos de dormência. A da direita, mãe de todas elas, que ganhei do Eduardo Luz
Em resposta à última charada, devo-lhe dizer: muitos palpites, poucos acertos, mas pelo menos muitos identificaram a erva arnica. No entanto, só o Leo deu nome e sobrenome para este tipo de arnica, já que, como disse a Luci, a arnica verdadeira, Arnica montana
, é nativa da Europa, cresce espontaneamente em regiões montanhosas e não é cultivada nem vai muito bem no Brasil.
Mas outras plantas nativas acabam recebendo o nome popular de arnica quando apresentam as mesmas propriedades da europeia, usada externamente como cicatrizante, anestésica, antiinflamatória etc. É o caso da
Solidago chilensis e da pseudo arnica que mostrei, Porophyllum ruderale.
Bem, mas o que está fazendo este tipo de arnica da fitoterapia aqui com comida? Bem, a nossa também é comestível  (couvinha). É que a outra planta da foto (lá na charada) tem o mesmo nome científico Porophyllum ruderale e descobri isto logo depois de conhecer a quirquinha na feira boliviana, no Pari (já falei dela aqui, ali
e vários outros posts). Fui pesquisar sobre ela, já que era muito parecida com a couvinha que conhecia e não deu outra - eram a mesma espécie.
Não encontrei artigos sobre a nossa erva arnica relacionando-a com a erva aromática (o contrário acontece), talvez por terem usos diferentes. Fiquei feliz quando descobri porque achei que um dia iria achar a arnica brasileira com o cheiro da quirquinha. Doce ilusão. Todas as que crescem espontaneamente aqui no meu bairro são praticamente inodoras, ou com leve perfume agradável, apesar das folhas com porus odoríferos, Porophyllum.
Talvez outras arnicas brasileiras, crescidas em outras regiões, tenham este aroma parecido com o da quirquinha, pois na monografia sobre a Solidago chilenses, no livro Plantas medicinais no Brasil, do Harry Lorenzi e F. J. Abreu Matos, a nossa arnica é apresentava brevemente assim: "Com o mesmo nome popular de arnica é conhecida também a espécie nativa Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass., conhecida também por cravo-de-urubu no Nordeste pelo seu odor nauseabundo quando fresca, a qual se atribui a mesma aplicação medicinal."
Este "odor nauseabundo" pode ser encontrado como descritor também da quirquinha e isto é compreensível quando lembramos, por exemplo, que o delicioso coentro causa repulsa em muita gente
.
Mas, falemos da quirquinha andina. Como já disse, a conheci na feirinha boliviana. Comprei um maço porque me encantei pelo aroma que lembra uma mistura de coentro e arruda. Perguntei, na banca, como era usada, depois pesquisei mais em casa, deixei na água, enraizou e plantei. Ela prosperou, deu flores e sementes - daquelas voadoras como da capiçoba
e outras Asteráceas. E sumiu do mapa. Definhou e achei que nunca mais a teria.
Mas o Eduardo Luz, do blog Da Cahaça ao Vinho, conseguiu outra muda e me deu de presente - na foto lá em cima, no vasinho. E foi ele, obviamente, que acertou parte da charada. Novamente a planta cresceu, deu flores, sementes e definhou. Já havia sentido que seu ciclo aqui em casa não era muito duradouro, mas ainda assim me descuidei e não guardei sementes. Fiquei dois anos sem quirquinha. E nesta estação, depois da chuvarada
, não é que elas reapareceram espontaneamente? Fiquei tão, mas tão feliz, que tratei de usar logo antes que saissem de novo em revoada. Agora preciso conferir aqui nas calçadas vizinhas pra ver se, quem sabe, não povoam também a rua como as capiçobas.
Um pouco sobre a quirquinha: nativa também da América do Sul, esta variedade de Porophyllum ruderale era considerada pelo povo Quechua como erva culinária e medicinal. Hoje, a quillquiña ou quirquiña, é usada em pratos bolivianos e peruanos, como um tipo de coentro. Aliás, outro nome para ela é coentro-boliviano. No Mexico também entra em vários pratos e é conhecida como pápaloquelite, pápalo ou tepegua. Ela é cultivada nas regiões mais ao norte da América do Sul, América Central e até a parte sul da América do Norte - no Arizona, Novo México e Texas pode ser encontrada em estado silvestre, mas não é usada como tempero.
Como usar: em recheios de abacate para tacos, em sopas, grelhados, feijões, saladas, molhos picantes de tomate. Como o aroma é volátil e muito frágil, melhor usar as folhas frescas, colocadas no último momento em pratos quentes. Ou em pratos crus, em qualquer momento. Minhas folhinhas tenho usado assim:
Salada com quirquinha: tomates, chalotas roxas, pepinos, queijo fresco, pimenta ardida vermelha, sem sementes, suco de limão, azeite e sal. Mistura tudo e nhac!
Deixe-as na água e ficarão frescas por vários dias
Molho de tomate picante: tomates maduros inteiros bem picados, pimentas ardidas sem sementes, picadas, quirquinha picada, sal e azeite. Mistura tudo e...
Nhac com peixe, carne de porco ou como quiser

12 comentários:

Angela Escritora disse...

Como assim " todas as daqui do bairro"? A vizinhança tem arnica espalhada? Deve ficar bom pra secar na máquina de desidratar...

Neide Rigo disse...

Sim, Angela, aqui tem muitas destas pseudo-arnicas que nascem com os outros matos. Aí não tem???
bjs,n

Anônimo disse...

hola neide e o mexicano,onde sao os lugares onde posso comprar quirquinha.obrigado neide.

Neide Rigo disse...

Mexicano,
tem link pra a feira boliviana aí no texto. N

Gilda disse...

Oi Neide
Agora que você disse o nome, comi este temperinho na Bolívia há mais de 30 anos e ainda lembro o sabor. Não entendi direito quando me disseram como se chamava. Nunca consegui fazer nenhum boliviano conhecido entender do que eu estava falando e eles sempre insistiam que eu deveria ter comido salsa ou coentro. Estou com a alma lavada agora que tenho certeza de que era algo diferente, e nunca mais vou esquecer.

Unknown disse...

Gostamos muito da postagem somos um casal brasileiro-boliviano, e nosso parabéns a você, eu particularmente boliviano gosto muito da quirquiña, obrigado por ajudar matar saudades.

Anônimo disse...

Neide

tudo bem?

Querida, queria saber se posso utilizar as imagens do site

desde já, agradeço

obrigada.

Ayam disse...

É uma delícia, comi nas Cemitas Poblanas no México e quero encontrar aqui no RJ, tem um sabor único e especial, faz toda a diferença.

Christian disse...

Em breve terei para oferecer sementes de Quirquinha ou Quilquinha
christian.halkyer@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Oi,eu sou boliviano e moro em Bombinhas -sc.no ano de 2017, fui a visitar junto com minha esposa ,um casal de amigos em Cândido de Abreu-PR.Os nossos amigos nos contaram que certo Médico boliviano ,muito reconhecido nessa cidade,vivia na cidade a 30 anos.Fui procurar ele e chegando perto da sua casa,senti um cheiro forte dum aroma velho conhecido:Quirquiña, aquela rua aonde morava esse medico boliviano virou "praga" de tanta quirquiña que tina no asfalto de pedras rusticas,fiquei impresionado.Logo o médico me diz que troz umas mudas da Bolívia e certamente o vento,os pássaros espalharam as sementes.

Unknown disse...

Tenho um siti0 onde tem bastante muitas vezes tenha que arranca-las pois envande meus canteiros hortaliças.sabia dos não sabias dos seus valores. Obrigada.

Anônimo disse...

Na região litorânea em São Paulo, não tinha na eu espontânea, a fragância me chamou a atenção pensei que pudesse ser arnica, dúvida, cheirosa.