segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Arroz vermelho do Pantanal



Estes pacotinhos de 100 g chegaram à Comissão Nacional da Arca do Gosto para avaliação - mas ainda não estão no comércio
Este arroz está na fila para entrar para a Arca do Gosto do Slow Food – só faltam pequenos ajustes. Independente disto, ele já é objeto de estudo e valorização por parte da comunidades ribeirinhas que trabalham com ele.
Ainda não há produção em escala comercial da espécie Oryza latifolia Desv. que ocupa uma grande área inundável pelo Rio Paraguai, no Pantanal, durante as cheias. Crescem neste mesmo ambiente várias gramíneas incluindo outra espécie de arroz silvestre, o Oryza glumaepatula Steud (o gênero Oryza é o mesmo do arroz que comemos do dia-a-dia O. sativa e pertence à tribo Oryzeae da famílica Poaceae). Mas era a O. latifolia a mais utilizada pelos índios Guató na sua alimentação. Não plantavam, as sementes germinavam espontaneamente, sendo colhidas entre maio e junho de cada ano.
Acontece que a área de criação de gado foi se expandindo, foram sendo incendiadas para abrir espaço e parte da vegetação silvestre está sendo extinta pela destruição das sementes e hoje este arroz já não está tão presente na alimentação deste índios.
Felizmente, hoje a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul junto com a Ong ECOA vêm trabalhando juntas com alternativas de extrativismo com as populações ribeirinhas. As comunidades de Barra do São Lourenço e Amolar, por exemplo, estão sendo estimuladas a preservar e comercializar este arroz – ainda inédito no mercado.
Conhecido na região como arroz-nativo-do-pantanal ou arroz-do-campo, tem sabor excelente, quase um arroz aromático, e textura que se mantém firme mesmo quando bem cozido, produzindo sensação prazerosa na mastigação. Sem falar, é claro, no alto valor nutricional, já que não se costuma beneficiar este arroz, sendo consumido sempre na forma integral.
E também não é o tipo de alimento que será produzido em grande quantidade. Quando surgir no mercado será um jóia rara como um arroz selvagem Zizania acquatica, aquele que se diz arroz mas é de outra espécie, que tem grãos longos e que cresce selvagem em brejos no nordeste dos Estados Unidos e Canadá – hoje, apesar da introdução de cultivo mais tecnológico, boa parte deste arroz comercializado é ainda colhido pelos índios nativos em Minnesota.
Então, por este tipo de produto, o importado e o nosso pantaneiro, se paga não só pelas qualidades gastronômicas, mas também pelo valor social que representa.
O Greenpeace está se empenhando um projeto para salvar o arroz vermelho (como aquele do Vale do Piancó, também da Arca do Gosto), que pode ser extinto com a possibilidade de introdução do arroz transgênico para cultivo comercial (até agora, só há para pesquisas). Agora, o arroz do Vale do Piancó até faz parte do menu do restaurante Dalva e Dito, do Alex Atala, que também abraçou a causa. Mas há outras variedades ameaçadas de extinção, como o arroz vermelho de Cruzeiro.
Vale lembrar que estes arrozes são ditos vermelhos porque a película de fora é vermelha. Mas ela pode ser marrom, roxa – no arroz negro, ou creme. Depois de polidos, todos ficam brancos.
Por enquanto ainda não há produção nem lojística para o comércio, mas a demanda pode incentivar a comunidade. Por isto, se tiver interesse no produto, entre em contato com o Prof. Geraldo Alves Damasceno Junior, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - geraldodamasceno@gmail.com
Como eu só tinha uma quantidade pequena, fiz uma receita para três, acompanhado de frango com sabores pantaneiros.


Arroz nativo do Pantanal
100 g de arroz nativo do Pantanal
2 colheres (chá) de gordura de porco
2 dentes de alho finamente picados
2 xícaras de água quente
1/2 colher (chá) de sal
Lave bem o arroz e reserve. Aqueça a gordura numa panela de pressão pequena e doure aí o alho. Coloque o arroz e refogue, mexendo, até aquecer. Junte a água quente, o sal e tampe a panela. Assim que a válvula começar a chiar, abaixe o fogo e conte cerca de 20 minutos. Espere acabar a pressão e abra a panela. Se for preciso, adicione mais água e cozinhe mais um pouco sem pressão.
Rende: de 2 a 3 porções
Peito de frango com cúrcuma
250 g de cubos de peito de frango
1/2 colher (chá) de sal
Pimenta-do-reino a gosto
1 colher (sopa) de suco de limão
1 colher (chá) de cúrcuma em pó (açafrão-da-terra)
2 colheres (chá) de maisena
1 colher (sopa) de óleo de pequi
1 colher (sopa) de azeite
1 cebola fatiada
2 pimentas dedo-de-moça sem sementes, em tiras (opcional)
2 colheres (sopa) de salsinha picada
Numa tigela, tempere os cubos de frango com sal, pimenta-do-reino e suco de limão. Misture bem. Junte a cúrcuma misturada com a maisena e misture com as mãos para que todos os pedaços fiquem impregnados. Em volta de cada pedaço deve formar uma camada úmida. Numa frigideira antiaderente aqueça o óleo de pequi com o azeite em fogo alto e junte o frango. Mexa até os pedaços ficarem dourados. Coloque na frigideira a cebola, as pimentas, se for usar, e refogue até que fiquem macios. Junte cerca de meia xícara de água quente, chacoalhe bem e assim que ferver, desligue o fogo. Prove o sal e corrija, se necessário. Junte a salsinha e sirva com o arroz.
Rende: 3 porções

11 comentários:

Arthur Guerra disse...

Esse arroz é parecido como o Camarge? Eu comprei um desses e não sei o que fazer com ele.. Não encontrei muitas receitas com ele que não fizessem uso de carne :/

Nani Oliveira disse...

Neide, fico acompanhando maravilhada as suas descobertas sobre alimentos e tenho aprendido e conhecido tantos alimentos que nunca tinha ouvido falar. Obrigada!! Aproveitando a oportunidade, observei que voce utilizou gordura de porco na receita do arroz e gostaria de saber a sua opniao sobre o uso dessa gordura e do oleo vegetal. Um abraco e parabens!

Neide Rigo disse...

Arthur,
o arroz de Camargue pode ser preparado como outro arroz integral. Este tem textura mais parecida com o arroz selvagem.
Em tempo: você é o Arthur Guerra que foi da Amerehc?

Nani, obrigada. Quanto à questão lipídica, prefiro gordura de porco que eu mesma extraio em casa e tem uma boa proporção de gordura monoinsatura que certos óleos vegetais com resíduos de solventes. O que mata é o excesso.

Um abraço, N

Claudia disse...

Neide,

eu quero esse arroz pantaneiro... Quando será que vai ser encontrável? Eu adoro o selvagem e misturo com o arroz branco, meio a meio, e as crianças amam.

Concordo, que o exagero é que faz mal a saúde...

Bj,

C.

cristina vilela disse...

Neide....sou sua seguidora e estou adorando seu cantinho gostaria de saber se voce é doadora de kefir...se for eu gostaria de adiquiri-los...beijos e aguardo resposta

cristina

Neide Rigo disse...

Cristina,
obrigada! Infelizmente não tenho mais como ser doadora de kefir. Desejo-lhe boa sorte! Um abraço, n

Luciane Moraes disse...

Arroz! diferente, ainda não tinha visto. Tem o mesmo sabor dos outros arroz acreano?

Daniel Brazil disse...

Beleza de noticia e de atitude, Neide. Viva o arroz vermelho do Pantanal! Ando meio calado, mas sempre passo por aqui, atrás das novidades.

Neide Rigo disse...

Lu,
posso dizer que é bem bom, sabor meio amendoado. Mas se é parecido com o acreano, isto eu não sei porque não conheço. Adoraria experimentar.

Daniel!
Obrigada, então, por passar sempre aqui.

Um abraço, N

Tia Maria disse...

Arroz vermelho nunca experimentei, mas experimentei h'a dias arroz glutinoso preto e adorei, http://ovegetalemmim.blogspot.com/2009/10/tofu-com-arroz-preto.html. Demora imenso a cozer, mas vale a pena.
O vermelho est'a na lista de coisas a experimentar.
Aqui na Holanda, encontra-se nas lojas de produtos asiáticos.
Cumprimentos da terra das tulipas.

Carlos Alberto de Lima disse...

Me fez lembrar deste que falei aqui: http://bacalhaucombatata.blogspot.com/2007/12/algumas-coisas.html

Pena que não consegui achar mais dele aqui no Rio...