terça-feira, 31 de julho de 2012

Cerâmicas da Silvia Lopes

Silvia Lopes foi minha professora de cerâmica primitiva, mas a aluna não foi muito adiante. A ideia era que Silvinha, que vive novamente em Salvador e está hospedada aqui em casa, trouxesse umas peças para que eu colocasse na vendinha, uma página de produtos de amigos que pretendo inaugurar no Come-se. Mas que nada, ela trouxe tudo e disse que é presente. Não teve acordo e por isto apresento as peças para ir aguçando as vontades. Logo ela tira uma outra fornada lá em Salvador e me manda fotos para eu oferecer em primeira mão para os leitores. São pratos, canecas, copinhos de cachaça e até um pilão lindo e funcional, pesado e com a parte interna áspera. Tudo em alta temperatura, com exceção da panela/ fruteira cozida em baixa para poder ir ao fogo. E ela combina técnicas de engobe com esmalte feito com minerais e faz tudo com um capricho de dar inveja (eu jamais teria a paciência dela).  Algumas peças, como as mandalas decorativas, seu carro chefe, e outros utilitários são vendidas na loja Toque de Minas, em Gonçalves-MG. Veja também alguns itens lá no site dela:  http://www.silvialopes.com.br - um pouco desatualizado, mas tem lá email para contato. E agora vou ver se faço um vatapá porque a baiana já encontrei. 









segunda-feira, 30 de julho de 2012

Exército de Drummond ataca novamente. Ou piquenique de julho de 2012


As toalhas sempre se repetem. A da Fabiana, da Adriana e minha, iguaizinhas, sempre tão presentes no piquenique perto de casa. O dia era de um azul bonito, com sol que não arde e vento que sopra de baixo, daquele que faz as folhas secas dançarem no chão, sementes aladas de espatódea grudarem no nosso creme e flores-macho de palmeira rabo-de-peixe repousarem entre nós. 













Tem professores e crianças do grupo ainda de férias, por isto julho é um mês mais vazio. Mas também tem gente de férias que justamente por isto apareceu, caso da jovem Júlia que estuda nos Estados Unidos e veio com meus amigos Mônica e Carlos, o pai, não sem antes passarem no Ceagesp para comprar frutas fresquinhas. Os vizinhos de muro Ana e Zé Antônio também apareceram - Ana se empenhou nos rolinhos de folha de arroz, que estavam deliciosos e refrescantes, e ainda cozinhou pinhão.  Priscila chegou pedalando com pão e frango assado com farofa bem quente na garupa. É bom que se diga que ninguém neste piquenique liga se for chamado de farofeiro. E Chus colocou a forma no forno enquanto fazia tradução e por isto se desculpou da casquinha queimada que deixou o bolo de iogurte ainda mais gostoso. Trouxe também sanduiches de ovo e de atum além de suco de laranja recém extraído, bem gelado.  Adriana disse que a sugestão para o bolo foi de Aninha que queria um de três andares, sem saber explicar o porque. Coberto com goiabada, estava irresistível. E Fabiana disse que não teve muito tempo pra preparar nada, daí ter inventado de fazer torradas com o pão que eu mesma havia lhe dado no último domingo – aliás, muito melhores que o presente do passado. Mas levou também um bolo de milho fresco incrível de bom. E nós levamos chá de especiarias, bolinhos de arroz, feijão e camarão seco no vapor e salada de pão. E havia mais uma porção de outras comidas gostosas, sempre em quantidade para todos levarem pra casa no final. 


A distração do piquenique desta vez foi as atividades do Exército de Drummond. É incrível como as crianças gostam. As poucas que haviam - Rodrigo, André e Aninha, estavam super empolgados. André, que é o maiorzinho, comeu alguma coisa, tentou identificar no livro as uvas que comia e veio logo pedir: Podemos começar a missão do Exército de Drummond? Disse que vai divulgar o blog entre os colegas da escola para que outras crianças ajudem a espalhar a ideia. Está se saindo um ótimo aprendiz na identificação das espécies comestíveis, pelo formato das folhas, mas também pelo cheiro. De vez em quando ele vinha me avisar: vou patrulhar aquela área. E durante uma folga veio dizer que conversou com os pais de umas crianças que estavam na praça e tentou convencê-los a participar do exército.

As mudas que tiramos eram realmente aquelas sem chance de crescer onde haviam despontado. Algumas que deixamos para trás no último piquenique foram cortadas no toco junto com a grama pelas lâminas da roçadeira pública. Então retiramos o máximo que conseguimos desta vez. Crianças e adultos colocaram mãos na terra, munidos de nossas armas – pazinhas de jardim. O ideal seria retirar com torrão, mas normalmente as mudas estão tão entranhadas junto com outras plantas, que não temos outra opção se não arrancar com puxão ou como é possível. Felizmente, pela minha experiência, a maioria sobrevive depois de replantada, desde que não a deixemos desidratar. Levamos água, terra, latas, potes plásticos, rolinhos de papel e outros utensílios que pudessem virar vasos e plantamos ali mesmo todas as mudas, grandes e pequenas, sem deixar que perdessem umidade. E todo mundo que quis pode levar mudas para si ou para dar de presente. Para Piracaia ainda sobraram muitas. 


Saldo da catança:   
22 nespereiras
31 pitangueiras
4 patas de vaca
4 jerivás
1 amoreira
10 pés de café
1 goiabeira


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Espécies em situação de risco ou o Exército de Drummond

A flor e a náusea (do livro A Rosa do Povo, Carlos Drummond de Andrade)

[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio


No último piquenique perto de casa, já escrevi o que se segue, mas não custa aplicar o auto-plágio para quem odeia clicar links. 



As crianças estavam empolgadas e talvez tenham vindo perguntar sobre alguma planta. Não sei qual foi o gancho, mas me lembrei de uma ideia que tive dia desses, de salvar pés de frutas em  situação de risco. Isto me ocorreu quando, olhando pela janela do ônibus parado no trânsito sobre o asfalto quente,  vi uma goiabeirinha feia crescendo na fresta da calçada. Desnutrida, folhas manchadas, mas lutando para sobreviver. Esta não tem condição nenhuma de chegar à idade adulta, pensei. E passei a avistar outras fruteiras como mangas, nêsperas e muitas pitangas nascidas por teimosia por ação de pássaros ou gentes que as levam para longe. Há aquelas que crescem sob a sombra das árvores mães, dos frutos caídos de maduro. 

Contei sobre as divagações, Fabiana gostou e já deu nome ao movimento: "Exército de Drummond", por causa do poema, transcrito lá embaixo. Todos nós, Marcos, Airton, Fabiana, Edu, eu,  fomos acrescentando ideias divertidas, como índice de vulnerabilidade, aplicativos para medição do grau no I-phone, kit salva-mudas, logotipo, site, planos de distribuição das mudas etc. Como não consigo ter pensamentos muito grandiosos ou ramificados, resolvi testar a ideia pequena ali mesmo na praça, com as crianças, sempre tão engajadas. Saímos com olhos atentos para identificar árvores, especialmente frutíferas, de pequeno tamanho sem chances de sobrevida (na próxima passagem do jardineiro da prefeitura, adeus pitangueirinhas!). Começamos a ficar bastante animados quando conseguimos identificar centenas de espécies que poderiam ir para o vasinho e depois ser doadas para quem pudesse dar a elas um solo digno. Outras, como mamão já grande, pé de maracujá e até tomate e feijão, ficariam por ali.  Não arrancamos todas as que se encaixavam no nosso critério pois estávamos sem ferramentas e recipientes apropriados, mas a algumas, incluindo cafezeiros, não resisti. Pelo menos doze mudas já estão em vasos.  

Então, nosso piquenique foi assim, com as crianças cheirando folhinhas, comparando com as árvores mães, aprendendo a reconhecer, olhando a praça com outros olhos, colhendo sementes.  E nós, adultos, viajando também em tirar goiabeiras das frestas de calçadas e espalhar frutíferas por todos os quintais. João e Chico teriam gostado, mas quando eles voltarem de Barcelona, nosso exército ficará completo. 


Se quiser ver as fotos, clique lá: http://piqueniquepertodecasa.blogspot.com.br/2012/06/piquenique-de-maio-de-2012.html

Cabeludinha achada numa calçada
Cabeludinha na terra, já com flor 
Do último piquenique para cá, Marcos e eu arregaçamos as mangas e fomos munidos de armas -  sacola plástica e pazinhas de jardinagem - às ruas nos domingos pela manhã dar continuidade ao nosso propósito. Antes disso, e mais ainda quando compramos o sítio em Piracaia, já tínhamos isto de pegar das ruas vasos abandonados, como foi o caso do pé de cabeludinha deixado só no torrão esturricado murchando sob o sol quente de uma calçada aqui no meu bairro. Colocamos a fruteira num vaso à sombra e demos-lhe mais terra e muita água. Quando a planta já estava recuperada, com brotos novos, levamos para o sítio e plantamos na terra com vista pra represa. E lá está já todo vigoroso lançando as primeiras flores. 

Dendê também pertence ao exército 
Café 
Mamão 
Café, mamão, pitangas, murtinhas,  mas também árvores de flor como pata-de-vaca e ipês sem nenhuma chance de sobrevivência nos lugares escolhidos para nascer,  já fazem parte do nosso resumo de floresta.  Todos estão em vasos esperando a hora certa de irem para a terra aberta. Aliás, tudo agora vira vaso e até os vizinhos ajuntam embalagens de leite e outros potes.  Para completar, os amigos que vão dispensar vasos nos consultam antes. E, claro, sempre aceitamos plantas de todo tipo. Leitores do Come-se, como a Gabi e a Eliane, também já nos deram várias frutíferas. E há poucos dias fomos buscar duas aceroleiras já produzindo, além de fisalis, pinheiro, orquídeas e samambaias, presentes da leitora Daniela.  E assim vamos povoando aquela terra de braquiárias que tem por vizinho o deserto verde de eucaliptos. Logo logo teremos uma floresta. Mas a ideia é aproveitar estas mudinhas para reflorestar áreas degradadas e sem verdes ou simplesmente replantar numa calçada. 


E você, que tal salvar mudinhas em risco por aí e fazer parte deste exército de Drummond?  Pode ser uma divertida atividade com as crianças. Aceitamos franquias e, para isto, basta começar.  Sempre haverá perto de você uma fresta de muro com uma goiabeira teimosa e  uma terra ociosa onde você possa dar a estas plantas mais condições de sobrevivência e, quem sabe, um dia comer os frutos. 

Rolinhos de papel higiênico viram mudeiras improvisadas
Mudas de murtinha 
Presentes da Daniela 
Cacto e vaso de lavanda abandonados na rua de baixo

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ervas finas, arroz e feijão. Ou quinta sem trigo 53



O terreno em Piracaia continua ruim, pedregoso, terra não corrigida nem adubada nem afofada. Enquanto vigora o vai e vem de pedreiro por lá, não estamos tendo tempo de pensar nisto, no bate-e-volta dos sábados.  Mas, como diz minha mãe, não existe terra ruim. Claro que ela quer dizer que toda terra pode ser melhorada com bom composto,  mas mesmo sem ser, desde que haja água, alguma coisa sempre há de vingar. E é pensando assim que,  sempre que vou pra lá, vou enterrando algum galho no chão duro para enraizar ou lançando ao acaso algumas sementes. E toda vez trago uma marmitinha com temperos para a semana. Pouca coisa, mas suficiente para o tanto que cozinhamos em casa - sálvia, coentro, salsinha, erva-doce, alecrim, pimenta dedo-de-moça. folhas de limão kafir, manjericão, tomilho e até flores de lavanda para enfeitar a cozinha. 


Verdadeiras ervas finas, dadivosas. Finíssimas, de bons modos, que se prestam a boas combinações. E toda vez que penso em ervas finas me lembro de anos atrás, mais de dez anos talvez, quando fomos a Goiás Velho e lá já estava chegando a onda de bistrôs e restaurantezinhos metidos a besta. Num dos dias em que saímos, Marcos, eu, Ananda e o namorado,  para almoçar,  tínhamos duas opções. Ou comíamos aquela comida de bufê -  um monte de travessa de barro vitrificado (devidamente temperado com chumbo) disposto sobre um fogão de lenha que só serve para ressecar a comida remexida e dar cara de comida goiana/ mineira/ caseira, ou enfrentávamos o tal metido a besta. O fogão de lenha já conhecíamos do dia anterior. Quando entramos no restaurante veio nos receber o dono. Já chegou perguntando: o que vem a ser nosso menu? Primeiro temos uma salada rica. O que vem a ser uma salada rica? Ele perguntava e respondia na sequência, sem intervalos para interpelações. Se deixasse espaço, eu tentaria acertar a resposta. E continuava: Vem a ser uma salada com radicchio,  endivias e brotos temperada com ervas finas. O que vem a ser ervas finas? É uma mistura de ervas frescas colhidas na horta das mais requintadas, como tomilho, orégano, manjericão roxo e salsa crespa. Nesta hora deu muita vontade de rir, mas resistimos e pedimos o prato do dia e, por favor, não precisa explicar mais nada, não.  O serviço era péssimo e a comida, pior ainda. Só no preço havia capricho. Agora não podemos ouvir este termo, fines herbs ou ervas finas, que temos vontade de rir.  A sorte é que na hora do jantar resolvemos apostar todas as fichas naquela porta escura, sobre a qual se lia em letra de mão "pensão, servimos comida". Subimos, só havia nós, fizeram tudo hora:  frango caipira, angu, couve, abóbora, quiabo, linguiça frita etc. Ficamos esperando por uns 40 minutos acomodados em uma mesa coberta com toalha de plástico, mas foi, sem exageros, a melhor refeição de toda a viagem por Minas e Goiás.   


Mas tudo isto é só pra dizer que estas ervas finíssimas e resilientes, já que têm se adaptado a condições bem inóspitas, entraram no prato da quinta sem trigo fazendo a maior diferença naquela velha massa de idli com farinha de arroz e de feijão.  Só não soube dar  um bom nome. Aí vai:









Assado de arroz e feijão com ervas 


Coloque numa tigela 1 xícara de farinha de arroz, 1 xícara de farinha de feijão fradinho, 1 xícara e meia de água, 1 colher (chá) rasa de sal, 1 de açúcar e 1 de fermento químico em pó e misture bem. Despeje numa forma redonda baixa,  pequena, de pizza, untada e polvilhada com farinha de arroz. Ajeite a massa com uma colher e espalhe por cima ervas frescas como tomilho, manjericão, salvia, salsa, alecrim, erva-doce. Espalhei por cima também umas pétalas de rosa carmencita que tenho no quintal, só para o prato ficar mais colorido, já que não fez a menor diferença no sabor. Deixei assar em forno médio por meia hora. Quando a massa começa a se soltar da assadeira e a rachar na superfície, tire do forno. Reguei com um pouco de azeite, polvilhei flor de sal, cortei, passei um pouco de nata e nhac. 


Flora, minha sobrinha,  disse que é um ótimo aperitivo para acompanhar cerveja. Mas pensei também que pode ser útil para se levar de lanche, no piquenique, ser servido com chá. 





Com queijo da Canastra e tomate 
Ganhei um queijo da Canastra da Fazenda do Zé Mário, da leitora Claudia que muito gentilmente se lembrou de mim quando esteve no Mercado de Belo Horizonte, e resolvi testar sobre a mesma massa. Um pedaço de 100 g do queijo já meia cura foi ralado por cima. Juntei tomate, orégano, manjericão e pimenta ardida vermelha em flocos. Assei até o queijo derreter e a massa ficar firme e nhac!  Não tinha como ficar ruim.  



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Cuscuz à moda argelina, da Flora


Se tem uma coisa que estes jovens estrangeiros na Sorbonne aprendem é conviver com outras culturas. Flora, minha sobrinha,  está novamente hospedada aqui, agora finalizando sua tese de mestrado em geografia. Seus amigos são argelinos, senegaleses e tunisianos que se juntam às vezes ao redor de um prato coletivo de cuscuz para abrandar a saudade universal da terra natal. Alguns franceses se juntam na festança e Flora, sendo sobrinha de quem é, também não fica de fora. O ritual começa com compra dos ingredientes e termina com travessas fartas dispostas sobre tapetes em residências estudantis com mobílias improvisadas. Claro, com muita alegria,  farra, fumaça e bebida, como posso ver nas fotos do facebook. 


Yasmin, amiga argelina de Flora que me alugou o próprio apartamento em Paris, é expert em cuscuz, fica brava quando lhe perguntam se na casa dela cuscuz se come com as mãos, e, generosa, não guardou só pra si a experiência. Flora Mohamed Rigo, que está aqui para provar, comporta-se como uma verdadeira marroquina, com quem geralmente é confundida em Paris, embora seja neta de libanês que não conheceu. Faladeira, me fez lembrar ontem do filme "O Segredo do Grão"  (La Graine et le Mulet, 2007), obra indispensável para quem gosta do assunto comida, cuscuz, choque de culturas, mundo árabe em Paris etc.   Ela começa pelo nariz,  escolhendo as especiarias que entram no moedor pra fazer a mistura, na falta de um Ras el hanout -  a combinação de aromas comum no norte da África e própria para o caldo do cuscuz. Abre minha lata de temperos, revira o armário e vai juntando um pouco disso, duas pitacas daquilo, cheira e diz que está desequilibrado, falta isto, sobra aquilo, volta para o moedor, junta mais uma pitada daquele outro, até formar um pó de perfume maravilhoso. Só então começou o preparo do cuscuz. E eu atrás, pesando tudo, o que entrou e o que sobrou. 


Ela queria ter usado turnip, aquele rábano branco com topo rosa e polpa firme e pouco picante, mas não encontrei. Poderia ter usado nabo, chegou a começar a descascá-lo, mas talvez não ficasse bom e desistiu.  Agora me lembro do tanto de nabo cozido que comi no Senegal em pratos assim e acho que daria certo, sim. Cismou que tinha que ter um legume branco e então resolveu usar inhame, mais pela cor que pelo sabor. Depois, ficou tão decepcionada que nem serviu sobre a sêmola, achou muita heresia. De qualquer forma, hoje estava ótimo. 


Também lamentou não ter tirado a pele de metade do frango, mas foi culpa minha que não vi necessidade. No fim, ela estava certa e tive que tirar com colher toda a gordura excedente do frango gordo demais, extraindo também um pouco do sabor que se fixa na parte gordurosa. Ainda assim, o caldo ficou perfumado e muito saboroso. A carne tem que ficar macia, soltando dos ossos, para se comer de colher. 


  


Até o prato ficar pronto ela ficou ao redor do fogão cuidando do sal, do tempero, do ponto. E preparou a sêmola como manda o rótulo, mas foi juntando água fervente aos poucos até chegar na consistência que julgou adequada, com a maior segurança do mundo. Não precisa, o rótulo não orienta assim, mas prefere fazer como os amigos e vai esfregando a sêmola com as mãos bem devagar, sem pressionar, para que as bolinhas fiquem bem soltas e assim também possam ser reaquecidas no vapor e foi o que fizemos.  Na hora de servir,  a prima Ananda chegou para ajudar a montar o prato e a comer. Antes, fomos ao aeroporto buscar minha amiga Silvinha e jantamos felizes. Mais ainda porque sobraria para o almoço de hoje. 


Cuscuz à moda argelina, da Flora 


Para o ras el hanout. Triture tudo junto 1 colher de café de cada das seguintes especiarias: grãos de coentro, grãos de cominho, pimenta seca em flocos e ainda as sementes de três vagens de cardamomo. Junte 2 colheres de café de noz moscada moída, 1 colher de café de canela em pó e 5 colheres de café de cúrcuma/ açafrão-da-terra em pó. Misture tudo e volte ao moedor. Se não tiver moedor, triture tudo no pilão ou improvise outro jeito. Reserve.


Ingredientes para o caldo de frango para o cuscuz 
2 colheres (sopa) de azeite 
1 cebola pequena picada (60 g) 
1,5 kg de coxa e sobrecoxa de frango - metade com pele, metade com
36 g de sal (1 colher e meia de sopa rasa e talvez mais um pouco)
800 g de cenoura cortada em quartos e ao meio
500 g de rábano ou nabo cortado em quartos 
2 litros de água
2 tomates picados em quartos
1 lata de tomate pelado - tomates picados e o caldo 
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada 
Uma porção de has el hanout (receita acima)
100 g de uvas passas 
500 g de abobrinha italiana cortada em quartos e ao meio
2 xícaras de grão-de-bico cozido 
1 colher (café) de gengibre em pó


Numa panela grande, refogue no azeite a cebola até começar a dourar. Junte o frango e refogue até começar a dourar. Junte o sal, a cenoura, o rábano e mexa. Junte a água, o tomate fresco, a pimenta, a mistura de especiarias e metade das passas.  Deixe cozinhar até o frango e a cenoura começarem a amaciar. Junte a abobrinha e deixe cozinhar até ficar macia. Neste tempo, cenoura, frango, nabo e abobrinha deverão estar macios. Acrescente o grão de bico e deixe o caldo voltar a ferver. Acrescente o gengibre em pó, prove o tempero e corrija, se necessário. 


Para servir: cozinhe meio quilo de sêmola pré-cozida (como são todos os cuscuzes marroquinos vendidos no Brasil), conforme instrução do rótulo - para cada xícara de sêmola, junte 2 xícaras de caldo ou água e deixe em repouso até os grãos absorverem toda a água. Aí, basta soltar os grãos com um garfo.  Coloque a sêmola numa travessa ou prato grande raso e sobre ele os legumes, o frango, o grão de bico e parte do molho. A outra parte do molho é servida à parte para que o cuscuz vá sendo molhado na medida do gosto de cada um. Uma colher para cada pessoa, um molho apimentado tipo harissa e nhac! 

As primas Flora e Ananda