sexta-feira, 13 de julho de 2012

Era uma vez de comer: uma caramboleira de Acrelândia


Quanto vale uma árvore que produz todos os anos frutos doces e suculentos que alimentam a família e os vizinhos, nutrem e divertem? Uma árvore destas portentosas que fazem sombra, atraem pássaros e sustentam balanços não tem preço. Mas pra algumas pessoas não vale nada. Só serve é pra fazer sujeirada na calçada. Só presta é pra atrair mosquitos e moleques quebrando a cerca. Sucos, estrelinhas, alegrias, companhias?  Que nada, melhor o isolamento e o suco de pozinho. Às vezes a gente passa pelos lugares e se apega às pessoas mas  também à paisagem. Quando estive em Acrelândia, uma das árvores que me chamou a atenção foi a caramboleira da dona Edna. Os frutos reluziam como lanternas douradas em meio à folhagem verde e por isto Lúcia Guerra, que me ajudava nas oficinas, e eu resolvemos pedir um pouco para as aulas e para o piquenique.  Pode pegar quanto quiserem que aqui ninguém come. Mas e as meninas não gostam do suco? Não, elas gostam de suco pronto de pozinho. Então tá. 

No primeiro dia pegamos frutos pela cerca e colhemos da calçada. No segundo, me atrevi com consentimento a subir na árvore enquanto Lúcia ia recolhendo as que eu jogava de cima. Enchemos a sacola com as mais lindas e pesadas. Nunca tinha visto carambolas tão lindas. No caminho, meninos pediram algumas e se deliciaram. Foi a fruta que salvou nosso piquenique na praça, já que quase ninguém levou nada (diferente daquele último na escola). Fizemos suco amarelinho e saboroso e levamos as frutas lavadas numa cesta. As crianças se fartaram, se alegraram ao descobrir que fatiadas viravam estrelas, e todos os adultos aproveitaram. 

Mas os amigos da USP que estão lá novamente me escreveram e mandaram foto: 

"Neide, o pé de carambola deu lugar a um novo muro aqui no cruzamento da r. Rio de Janeiro com a r. Antonio Boa... a moca não gostava mesmo da árvore que fez a nossa alegria com tanto suco :(
Beijos com saudades,
Babi, Pablo e Rubem"

Pois é, atrás deste muro havia uma caramboleira. Estas fotos, nunca mais. Pelo menos o jambeiro e o coqueiro ainda resistem. Até quando? 

Aqui jaz uma caramboleira. Foto: Bárbara Lourenço

10 comentários:

Anônimo disse...

Triste mesmo, Neide. Uma pena.
Um bj
Gabi (Gabgaby)

Unknown disse...

Adoro carambola. Na casa da minha tia tem um pé de carambola e lá eles costumam fazer geléia, doces e sucos.
Uma delícia.
Beijos!

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Coincidência, hoje ganhei um boa porção de carambola, da minha iavizinha. Moramos em apto. mas ela tem sítio no interior.
Além de gostosa, é linda!
Um abraço
da lúc

Patricia disse...

ué,se todos lá gostam do" suco de pozinho",porque,depois que voces mostraram como usa bem a fruta,ela cortou o pé?Ficou com medo que ninguém a deixasse em paz depois que viram que o negócio era bom?

Maria de Lourdes Ruiz disse...

Sinceramente me entristeço com tal relato, mais por ter a consciência de que é por pura ignorância que eles dão preferência a suco de pozinho. Moro na zona rural e vejo quintais com uma infinidade de fontes de vitaminas se perdendo,mas juntam míseros troquinhos para comprar os refrigerecos da vida.

Bjs

Neide Rigo disse...

Comentário que Ana Suassuna mandou para meu email: O que você escreve sempre me faz lembrar alguma passagem de vida.
Nos anos 1940, estudei como aluna interna de um grande colégio do Recife, dirigido por uma Congregação belga. A comida, preparada por freiras brasileiras das mais diferentes regiões, era saborosa, variada, bem apresentada. Usava em abundância sucos e frutas de produção no local.
As carambolas me trouxeram de volta a esse cenário e aguçaram minha memória gustativa. Eram servidas ao natural, em sucos, doces e também fritas (não sei se em manteiga ou banha), para acompanhar variados pratos de carne. Os pratos ficavam lindos com a fruta cortada em rodelas e a combinação não desagrava quase ninguem. Vc. já experimentou essa alternativa? Diga-me alguma coisa.
Um abraço.

Fábio Metello disse...

Essa preferência por suco de pozinho tem como a principal causa a "preguiça" de escolher a fruta, lavar, cortar, processar, lavar novamente o utensílio usado para o processamento. Para não perder tempo as pessoas, preferem esse veneno em pó...independente da classe social..mas perderão tempo em consultórios médicos no futuro... quanto ao corte e maus tratos às arvores, isso ocorre em todo lugar...aqui mesmo onde moro, no bairro da Pompéia, já denunciei para prefeitura diversas irregularidades feitas por moradores,,,,e nunca fui atendido....Sempre escuto do ABU, que faz o programa provocações da TV cultura, que o Ser Humano é uma causa perdida....será???
abs
Fábio

Neide Rigo disse...

Gabi, que bom te ler por aqui!!

Janice, pois é, e eu louca pra ter uma árvore desta já bem grandona...

Lúcia, aproveite!

Patrícia, se dependesse só de mostrar como as frutas são gostosas e nutritivas... Infelizmente a propaganda da indústria alimentícia é mais forte.

Lourdes, é isto mesmo. Uma pena, né?

Ana, adorei saber das carambolas fritas. Como serão?

Um abraço, N

Lidia disse...

Carambolas frescas são deliciosas. Temos uma caramboleira aqui no quintal que produz sem grandes intervalos.
O chato é que uma vez dito na TV que a fruta era 'venenosa' para os que tinham problemas renais, a fruta passou a ser mal vista.
Cheguei a te enviar um e-mail uns meses atrás pedindo um post sobre isso, incluindo também o inhame e o espinafre.
Enfim, o refresco, eu prefiro com laranja e limão, fica ainda mais saboroso, e a compota que minha avó faz com as estrelinhas... nossa!
Fruta fresca é tudo de bom!

Neide Rigo disse...

Lídia, pois é, se sai na TV que bolacha recheada ou refrigerante ou fast food é ruim pra saúde de qualquer cidadão, ninguém liga muito, mas basta dizer que certas pessoas com certos problemas renais não podem comer carambola, pronto, ninguém mais quer comer. Carambolas podem ser consumidas sem exageros sem problema algum. Assim como inhame e espinafre (um dia ainda faço um post sobre isto, obrigada!). Um abraço, N