quarta-feira, 24 de junho de 2009

Receita de museu: O Waffeln da cidade de Antônio Prado



Naquela viagem que fiz recentemente a Antônio Prado - RS, encontrei no Museu Municipal uma forma de waffle, usada sabe-se lá usada por italianos ou alemães. Ou forma de waffeln, como quer Rui Gassen e seus antepassados germânicos. Foi através dele que conheci a waffelphane primordial de ferro para ser apoiada na boca de um fogão de lenha. Fazia uma noite gostosa no inverno gaúcho, com o fogo ardendo e aquecendo o quintal dos amigos Rui e Mariângela, recém-conhecidos pessoalmente.
Logo depois receberia de presente, pelo correio, uma waffelphanne como a deles, garimpada no ferro-velho em Santa Maria - RS. Aliás vieram duas, porque até o Guilherme ganhou a sua. Só o que precisei fazer foi limpar com palha-de-aço, limar restos de ferrugem, impermeabilizar com óleo quente e aguardar o momento oportuno de usar, que só aconteceu quando consegui mandar fazer um suporte adequado para a lenha, com espaço suficiente para girar a forma, que também ganhou um encaixe perfeito e seguro. A experiência está registrada aqui.
Mas o que me motivou a fazer esta nova rodada de waffle foi não só a presença aqui em São Paulo da minha amiga baiana Silvia Lopes, que convidei de última hora para a pequena recepção, mas também a receita estampada na forma do museu. Estava lá, sem legenda, a peça de ferro usada pelos colonos europeus, hoje trocada por geringoncinhas elétricas que fazem deste biscoitão apenas mais um item de fast-food. Talvez por isto nunca tenha me interessado por waffles elétricos e suas coberturas grudentas. Mas hoje me parecem iguarias. Não pela coisa em si nem pelo apetrecho moderno, mas pelo ritual que o preparo tradicional envolve. E depois porque os waffles ficam impregnados com um pouco da fumaça e isto me parece fundamental.
Saimos, Marcos eu eu, para comprar lenha, achamos um absurdo pagar 18 reais por um feixe de troncos de eucaliptos e voltamos soslaiando caçambas. Já quase em casa de mãos vazias, encontramos uma paciente do Marcos, vizinha, que nos lembrou do bosque aqui ao lado, com galhos secos amontoadas à espera da prefeitura para tirá-los. Voltamos com duas braçadas e agora era só usar o machadinho para reduzir em lenha miúda os gavetos. E, claro, a folia e a fumaça até se conseguir fazer fogo fazem parte da performance.
Tive que segurar meus impulsos para não alterar a receita do museu - quem sabe um pouquinho de açúcar, uma pitadinha de baunilha, umas raspinhas de limão? Por que não usar a receita da avó do Rui, que já tinha feito e ja sabia que daria certo? Mas, não. Tentei me convencer de que se uma receita estava ali prensada no velho ferro, indelével, era porque a tradição assim o recomendava. Sem sal nem açúcar, esta era a principal diferença. O jeito de fazer não estava indicado, mas imaginei que deveria antes de juntar os ingredientes secos fazer uma emulsão com a manteiga e os ovos. Deu certo, mas também poderia ser de outro jeito. Como já havia guardado a forma untada com óleo, não precisei besuntar de novo. Apenas aqueci, coloquei no centro uma conchada da massa e virei rapidamente. A massa é amanteigada e se solta facilmente dos sulcos. Imagino que seja uma boa opção também para os aparelhos elétricos. A vantagem é que é neutra e vai bem com coberturas doces e salgadas. Fiz metade da receita e foi suficiente para este povo da foto, todos muito de casa. Antes, servi um caldo de feijão com torresmo. E depois botei na roda as compotas que abundavam na geladeira, além de natas, doces de leite, queijos. Tudo assim bem light...

A receita do museu: Waffle ou waffeln (como será em italiano?)
250 g de manteiga
8 ovos
500 g de farinha de trigo
20 g de fermento químico
500 ml de leite
Numa tigela, amasse bem a manteiga (usei a sem sal, em ponto de pomada) e vá juntando, aos poucos, os ovos ligeiramente batidos, para formar uma emulsão cremosa. Se talhar, junte um pouco da farinha. Peneire a farinha com o fermento e vá adicionando à massa, alternando com o leite. Misture bem e asse na forma de waffle. Imagino que não dê muita diferença se bater todos os ingredientes na batedeira elétrica.
Sobre o fogo de lenha, a forma já deve estar super quente e untada ou impermeabilizada - deve-se girar rapidamente para assar dos dois lados por cerca de 1 minuto no total. Na forma elétrica, não sei.

Carmem, Guilherme, Suzana, Silvinha, Darly, Ananda e Marcos. Baguncinha boa.

8 comentários:

Mariângela disse...

ah,que delícia! Daqui a pouco começo a preparar a massa para nossa tarde de waffles que acontece hoje, concordo contigo, o gostinho de fumaça é fundamental e estas waffles não lembram em nada as elétricas,são mais suaves,fininhas e de bordinha crocante,como acompanhamento tudo que citaste,tudo muito light rsrsrs,beijos querida,adorei!!

v. paulics disse...

oi, neide, segue uma pergunta de leiguíssima em comida: na massa é o fermento quimico? 20 gramas é mais ou menos o quê? uma colher de sopa?
quando precisar de lenha, além da sua mata particular, pode passar por aqui. alguma sempre tem.
beijo.
veronika

Neide Rigo disse...

Oi, Verônika,
o fermento é químico sim, tipo Pó Royal. 20 gramas corresponde mais ou menos a 1 colher (sopa) cheia.
Obrigada pela oferta de lenha. Quando quiser a wafleira com seu suporte emprestado também, é só vir buscar.
beijos, N

Anônimo disse...

Olá Neide
Caíu-me o queixo de inveja ao ver esse belo objecto. Mais parece uma escultura em ferro fundido.
Adoooooooooooooooooooooooooooooro.
Vir ao seu blogue é um pouco como ir jantar num espaço óptimo em boa companhia e degustar excelente comida enquanto em fundo uma voz agradável, musical, sussurra e exibe imagens belíssimas sobre a generosidade da terra brasileira.
E o melhor é que o repasto é de graça.
Obrigada
Dri

LuLu disse...

Oi Neide... me chamo Maria Luiza e moro na Sicilia. Sou apaixonada pelo seu blog. Aprendo muitas coisas por aqui com voce.

Respondendo a sua perguntinha: aqui na Italia "waffle" se chama "gauffre". Eu adoooro!!

Beijo.
LuLu.

Neide Rigo disse...

Lulu,
Que bom saber. Grauffre.. vou tentar decorar. Beijos, n

Grasiele Cristina Schumann disse...

delicia... me lembro da infancia quando minha mãe fazia numa forma desta no fogão a lenha... to doida para comprar um , agora que consegui coloca rum fogão a lenha na minha pequena cozinha...

Anônimo disse...

Olá, eu tenho uma forma dessas em casa, mas não sei como usar. Pode me explicar ? Obrigada. --Natacha.