sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mudinhas e faladeiras ou pé de goiabóbora

Complexo de goiabas.: a maioria rasteja, mas estas preferem assim, penduradas na goiabeira. Goiabóboras.

Começamos pelos comentários no blog. Trocamos algumas figurinhas por email e nos descobrimos vizinhas de mil metros. Faladeiras, trocamos não só figurinhas, mas mudinhas. Da primeira vez ela veio buscar kefir com o menino mais velho, um pimpolho lindo e cavalheiro que ainda nem vai a escola. Conversamos na calçada, achei que ela tinha uma cara conhecida e o inverso também se dava. Conversa vai, conversa vem, ela se lembra de mim quando eu morava no CRUSP - conjunto residencial da USP e carregava um bebê no colo pelos corredores da ECA (Escola de Comunicação e Artes da USP), onde nós duas estudávamos. Ela, jornalismo e eu, artes plásticas. Nunca nos conversamos por lá. Meu bebê, Ananda, já tem 23 anos. Tanto tempo mudas e só agora, o encontro real mediado pela rede. A vida tem destas coisas engraçadas. Da segunda vez ela veio pegar as sementes de tamarillo que prometi. Chegou com os dois meninos e uma abóbora quase do tamanho deles. Os pequenos já foram avisando: nasceu na goiabeira, pendulada na goiabêla. Ela explicou o que as flores da aboboreira, sob vigilância constante e ansiosa, nunca fecundavam. Acabavam em fritadas e risotos. Até que uma vez foi viajar e quando voltou a goiabeira estava carregada de abobrinhas - normalmente rasteiras. Entramos, continuamos a conversa no quintal e falamos sem parar de mudinhas. Nós e as crianças: Mãe, olha o manjericão. Neide, o que é isto? Isto é de comer? Não, é comida de passarinho. Pode comer cru? Tem espinho? Depois da conversa animada, Veronika saiu daqui com mudinhas de jambu, manjericão cheiro de anis, folhas de curry, cará-moela e sementes de pitaia e de quiabo gigante. Fui, dois dias depois, a sua casa enquanto ela trabalhava. Quem me atendeu foram as crianças com a babá. É a Neide, é a Neide. Senti-me alegre e importante com o reconhecimento. Já abriram o portão mostrando: Neide, olha o pé de malacuzá (que vai pra lá e pra cá toda vez que se abre o portão, que é o seu tutor). Isto é pitanga. A abóbora tá lá trás. Olha a micilica. Este é limão lósa. Tem cana, tem cana, tem banana. O mais velho já fala perfeitamente qualquer proparoxítona, enquanto o caçula ainda usa fraldas, mal sabe falar, mas acerta do seu jeito o nome de todas as ervas e frutas do quintal. Apontou com o dedinho fofo algumas estufinhas e vasinhos já com as mudas: aqui ela pantou papel (eram as sementes de pitaia grudadas num guardanapo que eu havia dado). E fomos às abóboras, já que fui lá para fotografá-las. Saí com mudinha de raiz forte (não wasabe japonesa, raiz forte dos alemães) e fotos mil dos meninos posando entre os frutos da aboboreira que trepou na goiabeira. Foi divertido. Eles também acharam. Veja o email da Veronika:


Reprocidade muda
Neide, voltei da sua casa divertindo-me para encontrar lugares especiais para cada planta. Os meninos estavam em alvoroço - maritacas em revoada - contando pro Ri isso e aquilo e a porta e o sino na porta e a casa no fundo da casa e a gaveta na cozinha e o quiabão e as comidas de passarinho e as plantas que ele já conhecia e aquelas que tinham espinho e ufa!, Enquanto eu procurava relembrar os mil nomes e quefazeres com cada planta. O jambu não se animou. Qual o nome dele na loja de candomblé, mesmo? A plantinha chinesa também não fez muito respirar, mas talvez precise de mais tempo. As sementes esperam. Enquanto ajeitava as novidades, olhei no meu quintal e achei duas coisas que você talvez tenha interesse: semente de vinagreira (groselha) e uma muda de raiz forte (com o calor e a umidade, dá menos raiz que na Hungria, mas dá muita folha, para saladas picantes). É preciso cuidar porque se alastra e vai ficando difícil arrancar toda ela - sempre sobra um pedaço de raiz que vai brotar na próxima chuva. Mas um sítio é sempre um sítio. Se quiser, deixo por aí numa das voltas do caminho. Foi uma delícia passear no seu quintal. beijo, Veronika
E, depois da minha ida lá:
Boa tarde, Neide, nem cheguei em casa, ainda, mas já soube que você passou por lá, fotografou meninos, mixiricas e, inclusive, abóboras. Sei também que vai me mandar as fotos por computador e que a gente vai tomar chá e comer bolo na sua casa! eba! E eles não paravam de falar coisas sobre coisas pelo telefone. Você é sucesso de público e crítica na casa das abóboras.
beijos. Veronika

9 comentários:

Fabrícia disse...

Como é a natureza, não Neide? sempre nos surpreendendo e nos encantando com suas artimanhas.
Bjcas e boa viagem.

Ana Canuto disse...

Lindo esse post.
E por falar em coinciência, minha filha descobriu que uma coleguinha da escola mora a apenas 200 metros da nossa casa. Mudaram-se recentemente.
E ontem já foi lanchar com a amiguinha.
Pois não é que quando fui buscá-la, houve a mesma interação com a mãe dela. Ela já queria me dar umas rúculas do quintal, me convidou para o chimarrão, descobrimos que fomos vizinhas de cidade no Rio Grande do Sul, e blá blá blá....
Próximo encontro semana que vem. Também fiquei muito feliz.

Beijos da Ana.

Carolina Andrade disse...

Neide, você e seus posts encantadores. Adoro essas suas descoberta. Nós que vivemos no meio urbano diariamente sentimos muita falta disso ai!! E acabamos por perder estas maravilhas!! Grande beijo

Neide Rigo disse...

Ana, temos que aproveitar estas artimanhas do destino. Nada é por acaso dizem os sábios de plantão.

Carol, eu procuro aproveitar cada uma destas deliciosas oportunidades.

Beijos, N

Goreti disse...

Neide , que delícia...só de ver uma cena dessa meu animo vai lá no teto, poucos são os que valorizam o que temos de melhor, a natureza, suas flores, seus frutos...Fiquei babando nesse tres últimos posts...Agora, me avisa da pamonhada, pois se eu tiver a mínima chance de ir, vou mesmo, sei que pra mim é um pouco complicado, mas...

Beijos!!!

Anônimo disse...

Neide
Uma delicia de postagem, vale a pena saber que estes dedinhos conhecem goiabelas, pitangelas e outras frutas tão bem!
abs

Carlos Alberto de Lima disse...

Estou preparando uma "aventura" com abóbora.
Eu, que na infância não comia abóbora, já me sinto íntimo.

De goiabas tenho saudade do pé que tínhamos em casa e das que comia sentado num dos galhos... Pena que hoje não seja mais assim.

Anônimo disse...

Oi Neide, será que você tem dicas sobre o plantio de abóboras?
Obrigada.

Neide Rigo disse...

Adriana,
infelizmente esta vou ficar lhe devendo. Não sei nada de cultivo de abóboras (de outras coisas geralmente também não rsss). Mas, se eu fosse plantar, enterraria as sementes, regaria e esperaria pra ver no que ia dar.
Um abraço,
Neide